terça-feira, 14 de abril de 2020

Poder da fé


1. Quando Ele veio ao encontro do povo, um homem se lhe aproximou e, lançando-
se de joelhos a seus pés, disse: “Senhor, tem piedade do meu filho, que é lunático e sofre muito, pois cai muitas vezes no fogo e muitas vezes na água. Apresentei-o aos teus discípulos, mas eles não o puderam curar.” — Jesus respondeu, dizendo: “Ó raça incrédula e depravada, até quando estarei convosco? Até quando vos sofrerei? Trazei-me aqui esse menino.” — E tendo Jesus ameaçado o demônio, este saiu do menino, que no mesmo instante ficou são. Os discípulos vieram então ter com Jesus em particular e lhe perguntaram: “Por que não pudemos nós outros expulsar esse demônio?” — Respondeu-lhes Jesus: “Por causa da vossa incredulidade.
Pois em verdade vos digo, se tivésseis a fé do tamanho de um grão de mostarda, diríeis a esta montanha: ‘Transporta-te daí para ali e ela se transportaria, e nada vos seria impossível.’” (Mateus, 17:14 a 20.)
2. No sentido próprio, é certo que a confiança nas suas próprias forças torna o homem capaz de executar coisas materiais, que não consegue fazer quem duvida de si. Aqui, porém, unicamente no sentido moral se devem entender essas palavras. As montanhas que a fé desloca são as dificuldades, as resistências, a má vontade, em suma, com que se depara da parte dos homens, ainda quando se trate das melhores coisas. Os preconceitos da rotina, o interesse material, o egoísmo, a cegueira do fanatismo e as paixões orgulhosas são outras tantas montanhas que barram o caminho a quem trabalha pelo progresso da Humanidade. A fé robusta dá a perseverança, a energia e os recursos que fazem se vençam os obstáculos, assim nas pequenas coisas, que nas grandes. Da fé vacilante resultam a incerteza e a hesitação de que se aproveitam os adversários que se têm de combater; essa fé não procura os meios de vencer, porque não acredita que possa vencer.
3. Noutra acepção, entende-se como fé a confiança que se tem na realização de uma coisa, a certeza de atingir determinado fim. Ela dá uma espécie de lucidez que permite se veja, em pensamento, a meta que se quer alcançar e os meios de chegar lá, de sorte que aquele que a possui caminha, por assim dizer, com absoluta segurança. Num como noutro caso, pode ela dar lugar a que se executem grandes coisas.
A fé sincera e verdadeira é sempre calma; faculta a paciência que sabe esperar, porque, tendo seu ponto de apoio na inteligência e na compreensão das coisas, tem a certeza de chegar ao objetivo visado. A fé vacilante sente a sua própria fraqueza; quando a estimula o interesse, torna-se furibunda e julga suprir, com a violência, a força que lhe falece. A calma na luta é sempre um sinal de força e de confiança; a violência, ao contrário, denota fraqueza e dúvida de si mesmo.

4. Cumpre não confundir a fé com a presunção. A verdadeira fé se conjuga à humildade; aquele que a possui deposita mais confiança em Deus do que em si próprio, por saber que, simples instrumento da vontade divina, nada pode sem Deus. Por essa razão é que os bons Espíritos lhe vêm em auxílio. A presunção é menos fé do que orgulho, e o orgulho é sempre castigado, cedo ou tarde, pela decepção e pelos malogros que lhe são infligidos.

terça-feira, 7 de abril de 2020

Uma dívida paga pelo alto


José, o irmão de Chico, que fora por muito tempo seu orientador e dirigia as sessões do CENTRO espírita, adoece     gravemente,     e,     acaba desencarnando, deixando ao irmão o encargo de lhe amparar a família.
 Dias depois, o Chico verifica que o José lhe deixara também uma dívida, pois esquecera de pagar a conta da luz, no valor de onze cruzeiros.  
Isso era muito para o pobre médium, pois no fim de cada mês nada lhe sobrava do salário. 
Pensativo, sentou-se à soleira da porta de sua casinha rústica e abençoada.
Emmanuel lhe diz:

―Não se preocupe, confie e espere.

Horas depois, alguém lhe bate à porta. Vai ver. Era um senhor da roça.

― O senhor é o seu Chico Xavier?

― Sim, às suas ordens, meu irmão.

― Soube que seu irmão José morreu. E vim aqui pagar-lhe uma bainha de faca que ele me fez há tempos. E aqui está a importância combinada. 
Chico agradeceu-lhe. E ficando só, abriu o envelope. Dentro estavam onze cruzeiros... para pagar a luz.

Sorriu, descansado, livre de um peso. E concluiu para nós: – "Que bela lição ganhei".
A lição dos chuchus

Uma carroça de alimentos...


Uma carroça de alimentos...

Bezerra de Menezes não fora, como alguns de seus admiradores supõem, um
despreocupado com o Dia de Amanhã, com a assistência à família, com o seu e o
Futuro dos seus queridos entes familiares.
Não.

10 dicas do espírito Dr. Bezerra de Menezes para a sua vidaSabia, como poucos, ater-se à disciplina do necessário, a desprezar o
supérfluo, a não se apegar às coisas materiais com prejuízo de seu evolvimento
espiritual e da vitória de sua Missão.
Aceitava o pagamento dos clientes que lhe podiam pagar e dava aos pobres e
estropiados o que podia dar, inclusive algo de si mesmo.
Sua digna família jamais passou necessidade.
Todos os componentes de seu familistério lhe tiveram a assistência
permanente e o alimento espiritual de seus bons exemplos.
Preocupava-se, isto sim, com o Futuro de seu Espírito e dos Espíritos
daqueles que o Pai lhe confiou.
Dia a dia, examinava-se, revia-se interiormente, para se certificar se era
mais de Jesus e Jesus mais dele, se a distância psíquica entre ele e o Mestre era
menor, se cumpria, como prometera, sua Tarefa testemunhal.
E tudo lhe corria bem.
As dívidas eram pagas pontualmente. Nenhum compromisso deixava de ser cumprido.
Os Filhos eram educados cristãmente.
Jesus morava no seu Lar e dentro de seu Coração e dos Corações de seus
queridos entes familiares, norteando-lhes a existência e fazendo-a vitoriosa.
Numa manhã, no entanto, houve no lar uma apreensão.
O celeiro estava vazio, sem víveres para o jantar...
Na véspera, Bezerra havia restituído a importância das consultas aos seus
clientes pobres, porque, por intuição, compreendera que apenas possuíam o
necessário para a compra dos medicamentos. Agradecera a boa intenção do
Farmacêutico mas achava que não podia guardar aquelas importâncias...
Junto com a esposa, ciente e consciente da situação, ficara a pensar.
Vestira e saíra, consolando a querida companheira e dizendo-lhe:
— Não se preocupe, nada nos faltará, confiemos em Deusl
Ao regressar, à tardinha, encontra a esposa surpresa e um
pouco agastada, que lhe diz: 

— Por que tamanho gasto? Não precisava preocupar-se tanto, comprando
alimentos demais e que podem estragar-se...
— Mas, que acontecera?!
— Logo assim que você saiu, explica-lhe a esposa, recebemos uma carroça de
alimentos...
E, levando-o à despensa, mostrou-lhe os sacos, os embrulhos, os amarrados de
víveres, que recebera...
Bezerra olhou para tudo aquilo e emocionou-se! Nada comprara e quem, então,
lhe teria enviado tão grande dádiva se não Deus, através de seus bondosos
Filhos?...
E, abraçado à querida consorte, refugiou-se a um canto da casa para a prece
de agradecimento ao Pai de Amor, que lhe vitoriava a Missão, confirmando-lhe o
Ideal Cristão e como a lhe dizer:
— Por preocupar-se tanto com o próximo, com todos meus Filhos, eu
preocupo-me com você e todos os seus, também meus Filhosl
Traduzia e opulentava para o Servidor a Lição de Jesus, quando nos
apontou os lírios dos campos, as aves que não ajuntam em celeiros e se vestem e
se alimentam e jamais passam fome... 


terça-feira, 24 de março de 2020

O ateu e o planetário



         O ateu e o planetário.

Certo professor, astrônomo de grande fama, era muito de um jovem médico que, destituído de crenças religiosas, não acreditava fosse o Universo obra do Ser Supremo.
Braile, assim se chamava o professor, desejava vencer o ateísmo absurdo do amigo. Com este objetivo, construiu um magnífico planetário, isto é, uma peça mecânica que reproduzia o Sol e todos os planetas e seus movimentos e órbitas. O interessante engenho se movimentava graças a um dispositivo especial. Os astros nele representados iniciavam sua rotação em torno do Sol. Ao mesmo tempo que os pequeninos satélites, com precisão matemática, movimentavam-se também em torno dos respectivos planetas.
Braile terminou a construção do planetário. Aguardou pacientemente a visita o amigo. Certo dia ele apareceu. Após as primeiras saudações, entretiveram-se ambos em agradável palestra até que, a certa altura, perguntou o professor, interessado:
- Afinal, quais são as suas convicções religiosas?
- Ah – replicou o médico, entre irônico e desencantado – Não vos supunha ainda apegado a essas ideias do passado. Tudo quanto existe no mundo é obra do acaso. Continuo convicto de que Deus é uma ilusão que tem dominado as criaturas desde muitos séculos. Eu não creio em Deus. A natureza e o acaso são responsáveis pela criação do Universo.
Braile não deu resposta ao moço, a quem devotava grande afeto. Habilmente desviou a conversa para outro rumo. Desejava, porém, mais do que nunca, despertar aquele coração para a sublime verdade da existência do Criador.
Depois de alguns instantes, como quem nada pretendesse, o velho professor convidou o amigo a visitar seu modesto laboratório. Foi então que o jovem doutor se deparou com o maravilhoso aparelho em que apareciam, em bem feita engrenagem, o Sol com os seus nove planetas. O médico ateu, admirando o planetário, teceu sobre ele grandes elogios, perguntando em seguida:
- Qual o autor desse engenhoso instrumento?

Braile mostrou na fisionomia enigmático sorriso e respondeu tranquilo:
- Não houve autor algum. Ninguém fez este planetário.
- Como assim? – replicou o médico surpreendido.
- É muito fácil. Este aparelho apareceu aqui por uma simples e natural casualidade.
O moço doutor olhou-o mais surpreendido ainda e, meio desapontado retrucou-lhe:
- Caro professor, estou encantado com estre instrumento que desejo ardentemente conhecer-lhe o autor. Peço-vos, pois, que não gracejeis comigo e dizei-me: quem fez este planetário?
Mas Braile, com o olhar brilhante e a voz séria e grave, tornou a dizer-lhe:
- Ninguém p fez amigo, ou melhor, ele é obra do acaso.
- Zombas de mim, professor – disse o moço, aborrecido. – Uma peça tão perfeita não pode ser obra da casualidade. Onde se concebe um objeto assim, feito com arte e inteligência, não ter um autor? Isso é impossível!
Então, Braile falou carinhosamente:
- Ah! Este planetário, reconhece você, não pode ser fruto da casualidade. Deve ter um autor..., no entanto, é um simples instrumento. E o Universo com as suas infinitas e insondáveis maravilhas? E a criatura humana cujo corpo é a mais engenhosa máquina e cuja alma é sopro divino? Tudo isso é obra do acaso?
O jovem médico baixou a cabeça, meditativo. Compreendera a intenção do velho professor. Depois de meditar alguns segundos, olhou para Braile e estendeu a mão.
- Adeus! – disse ele, comovido. – Adeus e... obrigado! Obrigado pela lição. Prometo-lhe nela meditarei para chegar a melhores conclusões sobre o Autor da Vida.
Braile abraçou-o, emocionado. Sabia que a semente que acabava de lançar naquele coração germinaria e se transformaria em belos sazonados frutos.

domingo, 7 de janeiro de 2018

Caráter da revelação espírita- Parte 1


5. Mas o professor não ensina senão o que aprendeu: é um revelador
de segunda ordem; o homem de gênio ensina o que descobriu por si mesmo:
é o revelador primitivo; traz a luz que pouco a pouco se vulgariza. Que
seria da humanidade sem a revelação dos homens de gênio, que aparecem
de tempos a tempos?
Mas quem são esses homens de gênio? E por que são homens de
gênio? Donde vieram? Que é feito deles? Notemos que na sua maioria traz,
ao nascer, faculdades transcendentes e alguns conhecimentos inatos, que
com pouco trabalho desenvolvem. Pertencem realmente à humanidade,
pois nascem, vivem e morrem como nós. Onde, porém, adquiriram esses
conhecimentos que não puderam aprender durante a vida? Dir-se-á, com
os materialistas, que o acaso lhes deu a matéria cerebral em maior quantidade
e de melhor qualidade? Neste caso, não teriam mais mérito que um
legume maior e mais saboroso do que outro.
Dir-se-á, como certos espiritualistas, que Deus lhes deu uma alma
mais favorecida que a do comum dos homens? Suposição igualmente ilógica,
pois que tacharia Deus de parcial. A única solução racional do problema
está na preexistência da alma e na pluralidade das vidas. O homem
de gênio é um Espírito que tem vivido mais tempo; que, por conseguinte,
adquiriu e progrediu mais do que aqueles que estão menos adiantados. Encarnando,
traz o que sabe e, como sabe muito mais do que os outros e não
precisa aprender, é chamado homem de gênio. Mas seu saber é fruto de um
trabalho anterior e não resultado de um privilégio. Antes de renascer, era
ele, pois, Espírito adiantado: reencarna para fazer que os outros aproveitem
do que já sabe, ou para adquirir mais do que possui.
Os homens progridem incontestavelmente por si mesmos e pelos
esforços da sua inteligência; mas, entregues às próprias forças, só muito
lentamente progrediriam, se não fossem auxiliados por outros mais adiantados,
como o estudante o é pelos professores. Todos os povos tiveram
homens de gênio, surgidos em diversas épocas, para dar-lhes impulso e
tirá-los da inércia.
Resultado de imagem para moises e jesus6. Desde que se admite a solicitude de Deus para com as suas criaturas,
por que não se há de admitir que Espíritos capazes, por sua energia
e superioridade de conhecimento, de fazerem que a humanidade avance,
encarnem pela vontade de Deus, com o fim de ativarem o progresso em
determinado sentido? Por que não admitir que eles recebam missões, como
um embaixador as recebe do seu soberano? Tal o papel dos grandes gênios.
Que vêm eles fazer, senão ensinar aos homens verdades que estes ignoram
e ainda ignorariam durante largos períodos, a fim de lhes dar um ponto de
apoio mediante o qual possam elevar-se mais rapidamente? Esses gênios,
que aparecem através dos séculos como estrelas brilhantes, deixando longo
traço luminoso sobre a humanidade, são missionários ou, se o quiserem,
messias. O que de novo ensinam aos homens, quer na ordem física, quer
na filosófica, são revelações.
Se Deus suscita reveladores para as verdades científicas, pode, com
mais forte razão, suscitá-los para as verdades morais, que constituem elementos
essenciais do progresso. Tais são os filósofos cujas ideias atravessam
os séculos.
7. No sentido especial da fé religiosa, a revelação se diz mais particularmente
das coisas espirituais que o homem não pode descobrir por meio
da inteligência, nem com o auxílio dos sentidos; e esse conhecimento lhe
dão Deus ou seus mensageiros, quer por meio da palavra direta, quer pela
inspiração. Neste caso, a revelação é sempre feita a homens predispostos,
designados sob o nome de profetas ou messias, isto é, enviados ou missionários,
incumbidos de transmiti-la aos homens. Considerada debaixo deste
ponto de vista, a revelação implica a passividade absoluta e é aceita sem
verificação, sem exame, nem discussão.
Resultado de imagem para moises e jesus10. Só os Espíritos puros recebem a palavra de Deus com a missão
de transmiti-la; mas sabe-se hoje que nem todos os Espíritos são perfeitos
e que existem muitos que se apresentem sob falsas aparências, o que levou
João a dizer: “Não acrediteis em todos os Espíritos; vede antes se os Espíritos
são de Deus.” (1a Epístola, 4:1.)
Pode, pois, haver revelações sérias e verdadeiras como as há apócrifas
e mentirosas. O caráter essencial da revelação divina é o da eterna verdade.
Toda revelação eivada de erros ou sujeita a modificação não pode emanar de
Deus. É assim que a Lei do Decálogo tem todos os caracteres de sua origem,
enquanto as outras leis moisaicas, fundamentalmente transitórias,
muitas vezes em contradição com a lei do Sinai, são obra pessoal e política
do legislador hebreu. Com o abrandarem-se os costumes do povo, essas leis
por si mesmas caíram em desuso, ao passo que o Decálogo ficou sempre
de pé, como farol da humanidade. O Cristo fez dele a base do seu edifício,
abolindo as outras leis. Se estas fossem obra de Deus, seriam conservadas
intactas. O Cristo e Moisés foram os dois grandes reveladores que mudaram
a face ao mundo e nisso está a prova da sua missão divina. Uma obra
puramente humana careceria de tal poder.

sexta-feira, 12 de maio de 2017

A realeza de Jesus

Meu Reino não é deste mundo (Cap II ESE) parte 2





4. Que não é deste mundo o reino de Jesus todos compreendem,
mas também na Terra não terá Ele uma realeza? Nem sempre o título de
rei implica o exercício do poder temporal. Dá-se esse título, por unânime
consenso, a todo aquele que, pelo seu gênio, ascende à primeira plana
numa ordem de ideias quaisquer, a todo aquele que domina o seu século e
influi sobre o progresso da Humanidade. É nesse sentido que se costuma
dizer: o rei ou príncipe dos filósofos, dos artistas, dos poetas, dos escritores
etc. Essa realeza, oriunda do mérito pessoal, consagrada pela posteridade,
não revela, muitas vezes, preponderância bem maior do que a que cinge
a coroa real? Imperecível é a primeira, enquanto esta outra é joguete das
vicissitudes; as gerações que se sucedem à primeira sempre a bendizem, ao
passo que, por vezes, amaldiçoam a outra. Esta, a terrestre, acaba com a
vida; a realeza moral se prolonga e mantém o seu poder, governa, sobretudo,
após a morte. Sob esse aspecto não é Jesus mais poderoso rei do que os
potentados da Terra? Razão, pois, lhe assistia para dizer a Pilatos, conforme
disse: “Sou rei, mas o meu reino não é deste mundo.”

Meu Reino não é deste mundo



Meu Reino não é deste mundo 


1. Pilatos, tendo entrado de novo no palácio e feito vir Jesus à sua presença, perguntou-
lhe: “És o rei dos judeus?” — Respondeu-lhe Jesus: “Meu reino não é deste
mundo. Se o meu reino fosse deste mundo, a minha gente houvera combatido para
impedir que eu caísse nas mãos dos judeus; mas o meu reino ainda não é aqui.”
Disse-lhe então Pilatos: “És, pois, rei?” — Jesus lhe respondeu: “Tu o dizes; sou
rei; não nasci e não vim a este mundo senão para dar testemunho da verdade.
Aquele que pertence à verdade escuta a minha voz.” (João, 18:33, 36 e 37.)












2.
Por essas palavras, Jesus claramente se refere à vida futura, que
Ele apresenta, em todas as circunstâncias, como a meta que a Humanidade
irá ter e como devendo constituir objeto das maiores preocupações
do homem na Terra. Todas as suas máximas se reportam a esse grande
princípio. Com efeito, sem a vida futura, nenhuma razão de ser teria a
maior parte dos seus preceitos morais, donde vem que os que não creem
na vida futura, imaginando que Ele apenas falava na vida presente, não
os compreendem, ou os consideram pueris.
Esse dogma pode, portanto, ser tido como o eixo do ensino do Cristo,
pelo que foi colocado num dos primeiros lugares à frente desta obra. É que
ele tem de ser o ponto de mira de todos os homens; só ele justifica as anomalias
da vida terrena e se mostra de acordo com a Justiça de Deus.
3. Apenas ideias muito imprecisas tinham os judeus acerca da vida
futura. Acreditavam nos anjos, considerando-os seres privilegiados da Criação;
não sabiam, porém, que os homens podem um dia tornar-se anjos e
partilhar da felicidade destes. Segundo eles, a observância das Leis de Deus
era recompensada com os bens terrenos, com a supremacia da nação a que
pertenciam, com vitórias sobre os seus inimigos. As calamidades públicas
e as derrotas eram o castigo da desobediência àquelas leis. Moisés não pudera
dizer mais do que isso a um povo pastor e ignorante, que precisava
ser tocado, antes de tudo, pelas coisas deste mundo. Mais tarde, Jesus lhe
revelou que há outro mundo, onde a Justiça de Deus segue o seu curso.
É esse o mundo que Ele promete aos que cumprem os mandamentos de
Deus e onde os bons acharão sua recompensa. Aí o seu reino; lá é que Ele
se encontra na sua glória e para onde voltaria quando deixasse a Terra.
Jesus, porém, conformando seu ensino com o estado dos homens de
sua época, não julgou conveniente dar-lhes luz completa, percebendo que
eles ficariam deslumbrados, visto que não a compreenderiam. Limitou-se
a, de certo modo, apresentar a vida futura apenas como um princípio,
como uma Lei da Natureza a cuja ação ninguém pode fugir. Todo cristão,
pois, necessariamente crê na vida futura; mas a ideia que muitos fazem dela
é ainda vaga, incompleta e, por isso mesmo, falsa em diversos pontos. Para
grande número de pessoas, não há, a tal respeito, mais do que uma crença,
balda de certeza absoluta, donde as dúvidas e mesmo a incredulidade.
O Espiritismo veio completar, nesse ponto, como em vários outros,
o ensino do Cristo, fazendo-o quando os homens já se mostram maduros
bastante para apreender a verdade. Com o Espiritismo, a vida futura deixa
de ser simples artigo de fé, mera hipótese; torna-se uma realidade material,
que os fatos demonstram, porquanto são testemunhas oculares os que a
descrevem nas suas fases todas e em todas as suas peripécias, e de tal sorte
que, além de impossibilitarem qualquer dúvida a esse propósito, facultam
à mais vulgar inteligência a possibilidade de imaginá-la sob seu verdadeiro
aspecto, como toda gente imagina um país cuja pormenorizada descrição
leia. Ora, a descrição da vida futura é tão circunstanciadamente feita, são
tão racionais as condições, ditosas ou infortunadas, da existência dos que
lá se encontram, quais eles próprios pintam, que cada um, aqui, a seu mau
grado, reconhece e declara a si mesmo que não pode ser de outra forma,
porquanto, assim sendo, patente fica a verdadeira Justiça de Deus.


 

Poder da fé

1. Quando Ele veio ao encontro do povo, um homem se lhe aproximou e, lançando- se de joelhos a seus pés, disse: “Senhor, tem piedade d...