
A inferioridade das faculdades do homem não lhe permite
compreender
a natureza íntima de Deus. Na infância da Humanidade,
o homem o confunde muitas vezes com a criatura, cujas
imperfeições
lhe atribui; mas, à medida que nele se desenvolve o senso
moral, seu pensamento penetra melhor no âmago das coisas;
então,
faz idéia mais justa da Divindade e, ainda que sempre
incompleta,
mais conforme à sã razão.
Quando dizemos que Deus é eterno, infinito, imutável,
imaterial, único, onipotente, soberanamente justo e bom,
temos
idéia completa de seus atributos?
A este questionamento de Allan Kardec responderam os
Espíritos Superiores: Do vosso ponto de vista, sim, porque
credes
abranger tudo. Sabei, porém, que há coisas que estão acima
da inteligência
do homem mais inteligente, as quais a vossa linguagem,
restrita às vossas idéias e sensações, não tem meios de
exprimir. A
razão, com efeito, vos diz que Deus deve possuir em grau
supremo
essas perfeições, porquanto, se uma lhe faltasse, ou não
fosse infinita,
já ele não seria superior a tudo, não seria, por
conseguinte, Deus.
Para estar acima de todas as coisas, Deus tem que se achar
isento
de qualquer vicissitude e de qualquer das imperfeições que a
imaginação
possa conceber.
Deus é a suprema e soberana inteligência. É limitada a
inteligência
do homem, pois que não pode fazer, nem compreender,
tudo o que existe. A de Deus, abrangendo o infinito, tem que
ser
infinita. Se a supuséssemos limitada num ponto qualquer,
poderíamos
conceber outro ser mais inteligente, capaz de compreender e
fazer
o que o primeiro não faria e assim por diante, até ao
infinito.
Deus é eterno, isto é, não teve começo e não terá fim. Se
tivesse
tido princípio, houvera saído do nada. Ora, não sendo o nada
coisa alguma, coisa nenhuma pode produzir. Ou, então, teria
sido
criado por outro ser anterior e, nesse caso, este ser é que
seria Deus.
Se lhe supuséssemos um começo ou fim, poderíamos conceber
uma
entidade existente antes dele e capaz de lhe sobreviver, e
assim por
diante, ao infinito.
Deus é imutável. Se estivesse sujeito a mudanças, nenhuma
estabilidade teriam as leis que regem o Universo.
Deus é imaterial, isto é, a sua natureza difere de tudo o
que chamamos matéria.
De outro modo, não seria imutável, pois estaria sujeito às
transformações da
matéria. Deus carece de forma apreciável pelos nossos
sentidos, sem o que seria matéria.
Dizemos: a mão de Deus, o olho de Deus, a boca de Deus,
porque o homem,
nada mais conhecendo além de si mesmo, toma a si próprio por
termo de comparação
para tudo o que não compreende. São ridículas essas imagens
em que Deus é
representado pela figura de um ancião de longas barbas e
envolto num manto. Têm
o inconveniente de rebaixar o Ente supremo até às mesquinhas
proporções da Humanidade.
Daí a lhe emprestarem as paixões humanas e a fazerem-no um
Deus
colérico e cioso, não vai mais que um passo.
Deus é onipotente. Se não possuísse o poder supremo, sempre
se poderia conceber
uma entidade mais poderosa e assim por diante, até chegar-se
ao ser cuja
potencialidade nenhum outro ultrapassasse. Esse então é que
seria Deus 5.
Deus é soberanamente justo e bom. A providencial sabedoria
das leis divinas se
revela nas mais pequeninas coisas, como nas maiores, não
permitindo essa sabedoria
que se duvide da sua justiça, nem da sua bondade. O fato de
ser infinita uma qualidade,
exclui a possibilidade de uma qualidade contrária, porque
esta a apoucaria ou
anularia. Um ser infinitamente bom não poderia conter a mais
insignificante parcela
de malignidade, nem o ser infinitamente mau conter a mais
insignificante parcela de
bondade, do mesmo modo que um objeto não pode ser de um
negro absoluto, com a
mais ligeira nuança de branco, nem de um branco absoluto com
a mais pequenina
mancha preta. Deus, pois, não poderia ser simultaneamente
bom e mau, porque então,
não possuindo qualquer dessas duas qualidades no grau
supremo, não seria Deus;
todas as coisas estariam sujeitas ao seu capricho e para
nenhuma haveria estabilidade.
Não poderia ele, por conseguinte, deixar de ser ou
infinitamente bom ou infinitamente
mau. Ora, como suas obras dão testemunho da sua sabedoria,
da sua bondade e da sua
solicitude, concluir-se- á que, não podendo ser ao mesmo
tempo bom e mau sem deixar
de ser Deus, ele necessariamente tem de ser infinitamente
bom. A soberana bondade
implica a soberana justiça, porquanto, se ele procedesse
injustamente ou com parcialidade
numa só circunstância que fosse, ou com relação a uma só de
suas criaturas, já
não seria soberanamente justo e, em conseqüência, já não
seria soberanamente bom.
Deus é infinitamente perfeito. É impossível conceber-se Deus
sem o infinito
das perfeições, sem o que não seria Deus, pois sempre se
poderia conceber um ser que
possuísse o que lhe faltasse. Para que nenhum ser possa
ultrapassá-lo, faz-se mister
que ele seja infinito em tudo. Sendo infinitos, os atributos
de Deus não são suscetíveis
nem de aumento, nem de diminuição, visto que, do contrário,
não seriam infinitos e
Deus não seria perfeito. Se lhe tirassem a qualquer dos
atributos a mais mínima
parcela, já não haveria Deus, pois que poderia existir um
ser mais perfeito.
Deus é único. A unicidade de Deus é conseqüência do fato de
serem infinitas
as suas perfeições. Não poderia existir outro Deus, salvo
sob a condição de ser igualmente
infinito em todas as coisas, visto que, se houvesse entre
eles a mais ligeira
diferença, um seria inferior ao outro, subordinado ao poder
desse outro e, então, não
seria Deus. Se houvesse entre ambos igualdade absoluta, isso
equivaleria a existir, de
toda eternidade, um mesmo pensamento, uma mesma vontade, um
mesmo poder.
Confundidos assim, quanto à identidade, não haveria, em
realidade, mais que um
único Deus. Se cada um tivesse atribuições especiais, um não
faria o que o outro
fizesse; mas, então, não existiria igualdade perfeita entre
eles, pois que nenhum possuiria
a autoridade soberana.
A mais elevada concepção de Deus que podemos abrigar no
Santuário do Espírito
é aquela que Jesus nos apresentou, em no-lo revelando Pai
amoroso e justo, à
espera dos nossos testemunhos de compreensão e de amor.
Jesus não [...] se sentou na praça pública para explicar a
natureza de Deus e,
sim, chamou-lhe simplesmente «Nosso Pai», indicando os
deveres de amor e reverência
com que nos cabe contribuir na extensão e no aperfeiçoamento
da Obra Divina 14.
Por este ensinamento, o Cristo nos esclarece que todos [...]
somos irmãos,
filhos de um só Pai, que nos aguarda sempre, de braços
abertos, para a suprema
felicidade no eterno bem!...
O Mestre queria dizer-nos que Deus, acima de tudo, é nosso
Pai. Criador dos
homens, das estrelas e das flores. Senhor dos céus e da
Terra. Para Ele, todos somos
filhos abençoados. Com essa afirmativa, Jesus igualmente nos
explicou que somos no
mundo uma só família e que, por isso, todos somos irmãos,
com o dever de ajudar-nos
uns aos outros [...]. Na condição de aprendizes do nosso
Divino Mestre, devemos seguir-
lhe o exemplo. Se sentirmos Deus como Nosso Pai,
reconheceremos que os nossos
irmãos se encontram em toda parte e estaremos dispostos a
ajudá-los, a fim de sermos
ajudados, mais cedo ou mais tarde. A vida só será realmente
bela e gloriosa, na Terra,
quando pudermos aceitar por nossa grande família a
Humanidade inteira.
Em resumo, Deus não pode ser Deus, senão sob a condição de
que nenhum
outro o ultrapasse, porquanto o ser que o excedesse no que
quer que fosse, ainda que
apenas na grossura de um cabelo, é que seria o verdadeiro
Deus. Para que tal não se
dê, indispensável se torna que ele seja infinito em tudo. É
assim que, comprovada
pelas suas obras a existência de Deus, por simples dedução
lógica se chega a determinar
os atributos que o caracterizam.
Deus é, pois, a inteligência suprema e soberana, é único,
eterno, imutável,
imaterial, onipotente, soberanamente justo e bom, infinito
em todas as perfeições, e
não pode ser diverso disso.
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