Fora
da caridade não há salvação
Toda a moral de
Jesus se resume na caridade e na humildade, isto é, nas duas virtudes
contrárias ao egoísmo e ao orgulho. Em todos os seus ensinos, ele aponta essas
duas virtudes como sendo as que conduzem à eterna felicidade.

“Amarás a Deus
de toda a tua alma e a teu próximo como a ti mesmo; toda a lei e os profetas se
acham contidos nesses dois mandamentos. ”
E, para que não
haja equívoco sobre a interpretação do amor de Deus e do próximo, acrescenta:
“E aqui está o segundo mandamento que é semelhante ao primeiro”, isto é, que
não se pode verdadeiramente amar a Deus sem amar o próximo, nem amar o próximo
sem amar a Deus. Logo, tudo o que se faça contra o próximo o mesmo é que
fazê-lo contra Deus. Não podendo amar a Deus sem praticar a caridade para com o
próximo, todos os deveres do homem se resumem nesta máxima: FORA DA CARIDADE
NÃO HÁ SALVAÇÃO.
Quando mesmo eu tivesse a linguagem dos
anjos; quando tivesse o dom de profecia, que penetrasse todos os mistérios;
quando tivesse toda a fé possível, até ao ponto de transportar montanhas, se
não tiver caridade, nada sou. Dentre estas três virtudes: a fé, a esperança e a
caridade, a mais excelente é a caridade. (S. PAULO, 1ª
Epístola aos Coríntios, 13:1 a 7 e 13.)
Coloca assim,
sem equívoco, a caridade acima até da fé. É que a caridade está ao alcance de
toda gente: do ignorante, como do sábio, do rico, como do pobre, e independe de
qualquer crença particular. Faz mais: define a verdadeira caridade, mostra-a
não só na beneficência, como também no conjunto de todas as qualidades do
coração, na bondade e na benevolência para com o próximo.
886. Qual o
verdadeiro sentido da palavra caridade, como a entendia Jesus?
“Benevolência para com todos,
Indulgência
para as imperfeições dos outros,
Perdão
das ofensas.”
E a Caridade Material?
888 a) —
Dar-se-á reproveis a esmola?
“Não; o que
merece reprovação não é a esmola, mas a maneira por que habitualmente é dada. O
homem de bem, que compreende a caridade de acordo com Jesus, vai ao encontro do
desgraçado, sem esperar que este lhe estenda a mão. SÃO VICENTE DE PAULO
Sede, pois,
caridosos, praticando, não só a caridade que vos faz dar friamente o óbolo que
tirais do bolso ao que vo-lo ousa pedir, mas a que vos leve ao encontro das
misérias ocultas.
Tomai, pois,
por divisa estas duas palavras: devotamento e abnegação, e sereis fortes, porque
elas resumem todos os deveres que a caridade e a humildade vos impõem. O
sentimento do dever cumprido vos dará repouso ao espírito e resignação.
Espirito de Verdade - Cristo Consolador
Todos vós que
dos homens sofreis injustiças, sede indulgentes para as faltas dos vossos
irmãos, ponderando que também vós não vos achais isentos de culpas; é isso caridade,
mas é igualmente humildade. Se sofreis pelas calúnias, abaixai a cabeça sob
essa prova. Que vos importam as calúnias do mundo? Se é puro o vosso proceder,
não pode Deus vo-las compensar? Suportar com coragem as humilhações dos homens
é ser humilde e reconhecer que somente Deus é grande e poderoso. Lacordaire -
Bem aventurados os pobres de Espírito)
Dir-te-ão que,
lá, o maior é aquele que haja sido o mais humilde entre os pequenos deste
mundo; que aquele que mais amou os seus irmãos será também o mais amado no céu;
que os poderosos da Terra, se abusaram da sua autoridade, ver-se-ão reduzidos a
obedecer aos seus servos; que, finalmente, a humildade e a caridade, irmãs que
andam sempre de mãos dadas, são os meios mais eficazes de se obter graça diante
do Eterno. – Adolfo, bispo de Argel. (Marmande, 1862.)Bem aventurados os pobres
de Espírito
Qual é, meus
amigos, esse bálsamo soberano, que possui tão grande virtude, que se aplica a
todas as chagas do coração e as cicatriza? É o amor, é a caridade! Se possuís
esse fogo divino, que é o que podereis temer? Direis a todos os instantes de
vossa vida: “Meu Pai, que a tua vontade se faça e não a minha; se te apraz
experimentar- me pela dor e pelas tribulações, bendito sejas, porquanto é para
meu bem, eu o sei, que a tua mão sobre mim se abate.
É que toda
palavra ofensiva exprime um sentimento contrário à lei do amor e da caridade
que deve presidir às relações entre os homens enfim, que, depois da humildade
para com Deus, a caridade para com o próximo é a lei primeira de todo cristão.
Quando a
Humanidade se submeter à lei de amor e de caridade, deixará de haver egoísmo; o
fraco e o pacífico já não serão explorados, nem esmagados pelo forte e pelo
violento.
Caros amigos,
sede severos convosco, indulgentes para as fraquezas dos outros. É esta uma
prática da santa caridade, que bem poucas pessoas observam.
O verdadeiro
caráter da caridade é a modéstia e a humildade, que consistem em ver cada um
apenas superficialmente os defeitos de outrem e esforçar-se por fazer que
prevaleça o que há nele de bom e virtuoso, porquanto, embora o coração humano
seja um abismo de corrupção, sempre há, nalgumas de suas dobras mais ocultas, o
gérmen de bons sentimentos, centelha vivaz da essência espiritual.
Espiritismo!
doutrina consoladora e bendita! felizes dos que te conhecem e tiram proveito
dos salutares ensinamentos dos Espíritos do Senhor! Para esses, iluminado está o
caminho, ao longo do qual podem ler estas palavras que lhes indicam o meio de
chegarem ao termo da jornada: caridade prática, caridade do coração, caridade
para com o próximo, como para si mesmo; numa palavra: caridade para com todos e
amor a Deus acima de todas as coisas, porque o amor a Deus resume todos os
deveres e porque impossível é amar realmente a Deus, sem praticar a caridade,
da qual fez ele uma lei para todas as criaturas. Dufêtre, bispo de Nevers.
(Bordéus.)
“Amar o próximo
como a si mesmo: fazer pelos outros o que quereríamos que os outros fizessem
por nós”, é a expressão mais completa da caridade, porque resume todos os
deveres do homem para com o próximo. Allan Kardec (AMAR AO PRÓXIMO COMO A SI
MESMO)
O egoísmo é,
pois, o alvo para o qual todos os verdadeiros crentes devem apontar suas armas,
dirigir suas forças, sua coragem. Digo: coragem, porque dela muito mais necessita
cada um para vencer-se a si mesmo, do que para vencer os outros. Que cada um,
portanto, empregue todos os esforços a combatê-lo em si, certo de que esse
monstro devorador de todas as inteligências, esse filho do orgulho é o causador
de todas as misérias do mundo terreno. É a negação da caridade e, por
conseguinte, o maior obstáculo à felicidade dos homens. Jesus vos deu o exemplo
da caridade e Pôncio Pilatos o do egoísmo, pois, quando o primeiro, o Justo,
vai percorrer as santas estações do seu martírio, o outro lava as mãos, dizendo:
Que me importa! (Emmanuel)
Se na Terra a
caridade reinasse, o mau não imperaria nela; fugiria envergonhado;
ocultar-se-ia, visto que em toda parte se acharia deslocado. Começai vós por
dar o exemplo; sede caridosos para com todos indistintamente; esforçai-vos por
não atentar nos que vos olham com desdém e deixai a Deus o encargo de fazer
toda a justiça, a Deus que todos os dias separa, no seu reino, o joio do trigo.
O egoísmo é a
negação da caridade. Ora, sem a caridade não haverá descanso para a sociedade
humana. Digo mais: não haverá segurança. Com o egoísmo e o orgulho, que andam
de mãos dadas, a vida será sempre uma carreira em que vencerá o mais esperto,
uma luta de interesses, em que se calcarão aos pés as mais santas afeições, em
que nem sequer os sagrados laços da família merecerão respeito.– Pascal. (Sens,
1862.)
Tereis,
contudo, razão, se afirmardes que a felicidade se acha destinada ao homem nesse
mundo, desde que ele a procure, não nos gozos materiais, sim no bem. A história
da cristandade fala de mártires que se encaminhavam alegres para o suplício.
Hoje, na vossa sociedade, para serdes cristãos, não se vos faz mister nem o
holocausto do martírio, nem o sacrifício da vida, mas única e exclusivamente o sacrifício
do vosso egoísmo, do vosso orgulho e da vossa vaidade. Triunfareis, se a
caridade vos inspirar e vos sustentar a fé. – Espírito protetor. (Cracóvia,
1861.)
A verdadeira
caridade não consiste apenas na esmola que dais, nem, mesmo, nas palavras de
consolação que lhe aditeis. Não, não é apenas isso o que Deus exige de vós. A caridade
sublime, que Jesus ensinou, também consiste na benevolência de que useis sempre
e em todas as coisas para com o vosso próximo. Podeis ainda exercitar essa
virtude sublime com relação a seres para os quais nenhuma utilidade terão as
vossas esmolas, mas que algumas palavras de consolo, de encorajamento, de amor,
conduzirão ao Senhor supremo. Isabel de França. (Havre, 1862.)
Quando a
caridade regular a conduta dos homens, eles conformarão seus atos e palavras a
esta máxima: “Não façais aos outros o que não quiserdes que vos façam.” Em se
verificando isso, desaparecerão todas as causas de dissensões e, com elas, as
dos duelos e das guerras, que são os duelos de povo a povo. – Francisco Xavier.
(Bordéus, 1861.)
A beneficência
praticada sem ostentação tem duplo mérito. Além de ser caridade material, é
caridade moral, visto que resguarda a suscetibilidade do beneficiado, faz-lhe
aceitar o benefício, sem que seu amor-próprio se ressinta e salva guardando-lhe
a dignidade de homem, porquanto aceitar um serviço é coisa bem diversa de
receber uma esmola. Ora, converter em esmola o serviço, pela maneira de
prestá-lo, é humilhar o que o recebe, e, em humilhar a outrem, há sempre
orgulho e maldade. A verdadeira caridade, ao contrário, é delicada e engenhosa
no dissimular o benefício, no evitar até as simples aparências capazes de
melindrar, dado que todo atrito moral aumenta o sofrimento que se origina da
necessidade. Ela sabe encontrar palavras brandas e afáveis que colocam o
beneficiado à vontade em presença do benfeitor, ao passo que a caridade orgulhosa
o esmaga. A verdadeira generosidade adquire toda sublimidade, quando o
benfeitor, invertendo os papéis, acha meios de figurar como beneficiado diante
daquele a quem presta serviço. Eis o que significam estas palavras:
“Não saiba a
mão esquerda o que dá a direita.” Kardec
“Amemo-nos uns
aos outros e façamos aos outros o que quereríamos nos fizessem eles.” Toda a
religião, toda a moral se acham encerradas nestes dois preceitos. Se fossem
observados nesse mundo, todos seríeis felizes: não mais aí ódios, nem
ressentimentos. Direi ainda: não mais pobreza, porquanto, do supérfluo da mesa
de cada rico, muitos pobres se alimentariam e não mais veríeis, nos quarteirões
sombrios onde habitei durante a minha última encarnação, pobres mulheres
arrastando consigo miseráveis crianças a quem tudo faltava. A caridade moral
consiste em se suportarem umas às outras as criaturas e é o que menos fazeis
nesse mundo inferior, onde vos achais, por agora, encarnados. Grande mérito há,
crede-me, em um homem saber calar-se, deixando fale outro mais tolo do que ele.
É um gênero de caridade isso. Saber ser surdo quando uma palavra zombeteira se escapa
de uma boca habituada a escarnecer; não ver o sorriso de desdém com que vos
recebem pessoas que, muitas vezes erradamente, se supõem acima de vós, quando
na vida espírita, a única real, estão, não raro, muito abaixo, constitui
merecimento, não do ponto de vista da humildade, mas do da caridade, porquanto
não dar atenção ao mau proceder de outrem é caridade moral. Tende, porém,
cuidado, principalmente em não tratar com desprezo o vosso semelhante.
Lembrai-vos de tudo o que já vos tenho dito: Tende presente sempre que,
repelindo um pobre, talvez repilais um Espírito que vos foi caro e que, no momento,
se encontra em posição inferior à vossa. Encontrei aqui um dos pobres da Terra,
a quem, por felicidade, eu pudera auxiliar algumas vezes, e ao qual, a meu
turno, tenho agora de implorar auxílio. Lembrai-vos de que Jesus disse que
todos somos irmãos e pensai sempre nisso, antes de repelirdes o leproso ou o
mendigo. Adeus: pensai nos que sofrem e orai. – Irmã Rosália. (Paris, 1860.)
A caridade é,
em todos os mundos, a eterna âncora de salvação; é a mais pura emanação do
próprio Criador; é a sua própria virtude, dada por ele à criatura. Como
desprezar essa bondade suprema? Qual o coração, disso ciente, bastante perverso
para recalcar em si e expulsar esse sentimento todo divino? Qual o filho
bastante mau para se rebelar contra essa doce carícia: a caridade S. Vicente de
Paulo. (Paris, 1858.)
Várias maneiras
há de fazer-se a caridade, que muitos dentre vós confundem com a esmola.
Diferença grande vai, no entanto, de uma para outra. A esmola, meus amigos, é algumas
vezes útil, porque dá alívio aos pobres; mas é quase sempre humilhante, tanto
para o que a dá, como para o que a recebe. A caridade, ao contrário, liga o
benfeitor ao beneficiado e se disfarça de tantos modos! Pode-se ser caridoso,
mesmo com os parentes e com os amigos, sendo uns indulgentes para com os
outros, perdoando-se mutuamente as fraquezas, cuidando não ferir o amor-próprio
de ninguém. Cárita. (Lião, 1861.)
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