Laços
de família
Há no homem
alguma coisa mais, além das necessidades físicas há a necessidade de progredir.
Os laços sociais são necessários ao progresso e os de família mais apertados
tornam os primeiros. Eis que os segundos constituem uma lei da Natureza. Quis
Deus que, por essa forma, os homens aprendessem a amar-se como irmãos.3 A
família é, pois [...] uma instituição divina, cuja finalidade precípua consiste
em estreitar os laços sociais, ensejando-nos o melhor modo de aprendermos a
amar-nos como irmãos.5 Nesse sentido, o relaxamento dos laços de família
representa uma prática antinatural, uma [...] recrudescência do egoísmo.4

Fácil entender
que é assim justamente que nós, os espíritos eternos, atendendo aos impositivos
do progresso, nos revezamos na arena do mundo, ora envergando a posição de
pais, ora desempenhando o papel de filhos, aprendendo, gradativamente, na
carteira do corpo carnal, as lições profundas do amor — do amor que nos
soerguerá, um dia, em definitivo, da Terra para os Céus.12
A [...]
família, genericamente, representa o clã social ou de sintonia por identidade
que reúne espécimes dentro da mesma classificação. Juridicamente, porém, a
família se deriva da união de dois seres que se elegem para uma vida em comum,
através de um contrato, dando origem à genitora da mesma espécie. [...] A
família tem suas próprias leis, que consubstanciam as regras do bom
comportamento dentro do impositivo do respeito ético, recíproco entre os seus
membros, favorável à perfeita harmonia que deve haver sob o mesmo teto em que
se agasalham os que se consorciam.

É importante
considerar, entretanto, que não [...] são os da consanguinidade os verdadeiros
laços de família e sim os da simpatia e da comunhão de ideias, os quais prendem
os Espíritos antes, durante e depois de suas encarnações. Segue-se que dois
seres nascidos de pais diferentes podem ser mais irmãos pelo Espírito, do que
se fossem pelo sangue. Podem então atrair-se, buscar-se, sentir prazer quando
juntos, ao passo que dois irmãos consanguíneos podem repelir-se, conforme se
observa todos os dias: problema moral que só o Espiritismo podia resolver pela
pluralidade das existências. Há, pois, duas espécies de famílias: as famílias
pelos laços espirituais e as famílias pelos laços corporais. Duráveis, as
primeiras se fortalecem pela purificação e se perpetuam no mundo dos Espíritos,
através das várias migrações da alma; as segundas, frágeis como a matéria, se
extinguem com o tempo e muitas vezes se dissolvem moralmente, já na existência
atual.1 Por intermédio da paternidade e da maternidade, o homem e a mulher
adquirem mais amplos créditos da Vida Superior. [...] Os filhos são liames de
amor conscientizado que lhes granjeiam proteção mais extensa do Mundo Maior, de
vez que todos nós integramos grupos afins.
Na arena
terrestre, é justo que determinada criatura se faça assistida por outras que
lhe respiram a mesma faixa de interesse afetivo. De modo idêntico, é natural
que as inteligências domiciliadas nas Esferas Superiores se consagrem a
resguardar e guiar aqueles companheiros de experiência, volvidos à reencarnação
para fins de progresso e burilamento.
A parentela no
Planeta faz-se filtro da família espiritual sediada além da existência física,
mantendo os laços preexistentes entre aqueles que lhe comungam o clima.
Arraigada nas vidas passadas de todos aqueles que a compõem, a família
terrestre é formada, assim, de agentes diversos, porquanto nela se reencontram,
comumente, afetos e desafetos, amigos e inimigos, para os ajustes e reajustes
indispensáveis, ante as leis do destino.11
Formam famílias
os Espíritos que a analogia dos gostos, a identidade do progresso moral e a
afeição induzem a reunir-se. Esses mesmos Espíritos, em suas migrações
terrenas, se buscam, para se gruparem, como o fazem no espaço, originando-se
daí as famílias unidas e homogêneas. Se, nas suas peregrinações, acontece ficarem
temporariamente separados, mais tarde tornam a encontrar-se, venturosos pelos
novos progressos que realizaram. Mas, como não lhes cumpre trabalhar apenas para
si, permite Deus que Espíritos menos adiantados encarnem entre eles, a fim de
receberem conselhos e bons exemplos, a bem de seu progresso. Esses Espíritos se
tornam, por vezes, causa de perturbação no meio daqueles outros, o que
constitui para estes a prova e a tarefa a desempenhar.2
Na [...] esfera
do grupo consanguíneo o Espírito reencarnado segue ao encontro dos laços que
entreteceu para si próprio, na linha mental em que se lhe caracterizam as tendências.
A chamada hereditariedade psicológica é, por isso, de algum modo, a natural aglutinação
dos Espíritos que se afinam nas mesmas atividades e inclinações.9
Modernamente,
ante a precipitação dos conceitos que generalizam na vulgaridade os valores
éticos, tem-se a impressão de que paira rude ameaça sobre a estabilidade da
família. Mais do que nunca, porém, o conjunto doméstico se deve impor para a
sobrevivência a benefício da soberania da própria Humanidade.7 Atualmente, na
fase de aferição de valores morais por que passa a Humanidade, é comum ouvir a
voz da imaturidade e do pessimismo anunciando a extinção da família.
Entretanto, devemos tranquilizar [...] os nossos corações, porque a família não
está em extinção, o processo é de transformação. A vulnerabilidade do bebê humano
e sua dependência dos cuidados do adulto são indícios muito fortes de que a
família é uma necessidade psicofísica do homem e, portanto, será difícil
imaginar um sistema social sem essa instituição básica. O fato de ser a
instituição familiar uma necessidade do homem não significa, contudo, que ela
seja imutável. A família já se modificou muito desde a fase da sociedade
predominantemente agrícola até os dias de hoje. Estamos assistindo a uma nova
transformação. Toda mudança sempre acarreta um momento de desorganização e
talvez daí tenha surgido a ideia de que a família está se desmoronando,
desestruturando-se, extinguindo-se.
Algumas pessoas
se sentem tão abaladas por essa desordem transitória, que se aferram a um modo
de viver já ultrapassado, na tentativa de preservar valores decadentes, acreditando
defender assim os interesses da coletividade. Outras se aproveitam da
oportunidade para extravasar seus próprios impulsos desequilibrados.
Entretanto, o indivíduo que consegue ver o panorama social de um ponto mais
elevado, que já desenvolveu a capacidade de pensar criticamente, pode discernir
com mais facilidade acerca dos valores a serem preservados, separando-os
daqueles que devem ser descartados, contribuindo, desse modo, para a
consolidação do progresso.8
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