terça-feira, 24 de março de 2020

O ateu e o planetário



         O ateu e o planetário.

Certo professor, astrônomo de grande fama, era muito de um jovem médico que, destituído de crenças religiosas, não acreditava fosse o Universo obra do Ser Supremo.
Braile, assim se chamava o professor, desejava vencer o ateísmo absurdo do amigo. Com este objetivo, construiu um magnífico planetário, isto é, uma peça mecânica que reproduzia o Sol e todos os planetas e seus movimentos e órbitas. O interessante engenho se movimentava graças a um dispositivo especial. Os astros nele representados iniciavam sua rotação em torno do Sol. Ao mesmo tempo que os pequeninos satélites, com precisão matemática, movimentavam-se também em torno dos respectivos planetas.
Braile terminou a construção do planetário. Aguardou pacientemente a visita o amigo. Certo dia ele apareceu. Após as primeiras saudações, entretiveram-se ambos em agradável palestra até que, a certa altura, perguntou o professor, interessado:
- Afinal, quais são as suas convicções religiosas?
- Ah – replicou o médico, entre irônico e desencantado – Não vos supunha ainda apegado a essas ideias do passado. Tudo quanto existe no mundo é obra do acaso. Continuo convicto de que Deus é uma ilusão que tem dominado as criaturas desde muitos séculos. Eu não creio em Deus. A natureza e o acaso são responsáveis pela criação do Universo.
Braile não deu resposta ao moço, a quem devotava grande afeto. Habilmente desviou a conversa para outro rumo. Desejava, porém, mais do que nunca, despertar aquele coração para a sublime verdade da existência do Criador.
Depois de alguns instantes, como quem nada pretendesse, o velho professor convidou o amigo a visitar seu modesto laboratório. Foi então que o jovem doutor se deparou com o maravilhoso aparelho em que apareciam, em bem feita engrenagem, o Sol com os seus nove planetas. O médico ateu, admirando o planetário, teceu sobre ele grandes elogios, perguntando em seguida:
- Qual o autor desse engenhoso instrumento?

Braile mostrou na fisionomia enigmático sorriso e respondeu tranquilo:
- Não houve autor algum. Ninguém fez este planetário.
- Como assim? – replicou o médico surpreendido.
- É muito fácil. Este aparelho apareceu aqui por uma simples e natural casualidade.
O moço doutor olhou-o mais surpreendido ainda e, meio desapontado retrucou-lhe:
- Caro professor, estou encantado com estre instrumento que desejo ardentemente conhecer-lhe o autor. Peço-vos, pois, que não gracejeis comigo e dizei-me: quem fez este planetário?
Mas Braile, com o olhar brilhante e a voz séria e grave, tornou a dizer-lhe:
- Ninguém p fez amigo, ou melhor, ele é obra do acaso.
- Zombas de mim, professor – disse o moço, aborrecido. – Uma peça tão perfeita não pode ser obra da casualidade. Onde se concebe um objeto assim, feito com arte e inteligência, não ter um autor? Isso é impossível!
Então, Braile falou carinhosamente:
- Ah! Este planetário, reconhece você, não pode ser fruto da casualidade. Deve ter um autor..., no entanto, é um simples instrumento. E o Universo com as suas infinitas e insondáveis maravilhas? E a criatura humana cujo corpo é a mais engenhosa máquina e cuja alma é sopro divino? Tudo isso é obra do acaso?
O jovem médico baixou a cabeça, meditativo. Compreendera a intenção do velho professor. Depois de meditar alguns segundos, olhou para Braile e estendeu a mão.
- Adeus! – disse ele, comovido. – Adeus e... obrigado! Obrigado pela lição. Prometo-lhe nela meditarei para chegar a melhores conclusões sobre o Autor da Vida.
Braile abraçou-o, emocionado. Sabia que a semente que acabava de lançar naquele coração germinaria e se transformaria em belos sazonados frutos.

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