segunda-feira, 17 de novembro de 2014

Jesus

Boa tarde queridos companheiros! é com grande alegria que compartilhamos com vocês o texto que foi tratado com o nosso grupo de iniciantes.





Qual o tipo mais perfeito que Deus tem oferecido ao homem, para
servir de guia e modelo?
“Jesus”.
Para o homem, Jesus constitui o tipo da perfeição moral a que a Humanidade
pode aspirar na Terra. [...] Allan Kardec: O livro dos espíritos,
questão 625.
Jesus, guia e modelo da Humanidade
Rezam as tradições do mundo espiritual que na direção de todos os fenômenos, do nosso sistema, existe uma Comunidade de Espíritos puros e eleitos pelo Senhor supremo do Universo, em cujas mãos se conservam as rédeas diretoras da vida de todas as coletividades planetárias.
Essa Comunidade de seres angélicos e perfeitos, da qual é Jesus um dos membros divinos, ao que nos foi dado saber, apenas já se reuniu, nas proximidades da Terra, para a solução de problemas decisivos da organização e da direção do nosso planeta, por duas vezes no curso
dos milênios conhecidos.
A primeira, verificou-se quando o orbe terrestre se desprendia da nebulosa solar, a fim de que se lançassem, no Tempo e no Espaço, as balizas do nosso sistema cosmogônico e os pródromos da vida na matéria em ignição, do planeta, e a segunda, quando se decidia a vinda do Senhor à face da Terra, trazendo à família humana a lição imortal do seu Evangelho de amor e redenção.
Vemos, dessa forma, a excelsitude de Jesus, o construtor da nossa moradia, planeta destinado à nossa melhoria espiritual.
Jesus [...], com as suas legiões de trabalhadores divinos, lançou o escopo da sua misericórdia sobre o bloco de matéria informe, que a sabedoria do Pai deslocara do Sol para as suas mãos augustas e compassivas. Operou a escultura geológica do orbe terreno, talhando a escola abençoada e grandiosa, na qual o seu coração haveria de expandir-se em amor, claridade e justiça. Com os seus exércitos de trabalhadores devotados, estatuiu os regulamentos dos fenômenos físicos da Terra,
organizando-lhes o equilíbrio futuro na base dos corpos simples de matéria, cuja unidade substancial os espectroscópios terrenos puderam identificar por toda a parte no universo galáxico. Organizou o cenário da vida, criando, sob as vistas de Deus, o indispensável à existência dos seres do porvir. Fez a pressão atmosférica adequada ao homem, antecipando-se ao seu nascimento no mundo [...]. Definiu todas as linhas de progresso da humanidade futura, engendrando a harmonia de todas as forças físicas que presidem ao ciclo das atividades planetárias.
Por ignorar o amor de Jesus e o trabalho que vem realizando ao longo dos milênios, em nosso benefício, permanecemos imersos em sofrimentos atrozes.
A ciência do mundo não lhe viu as mãos augustas e sábias na intimidade das energias que vitalizam o organismo do Globo. Substituíram-lhe a providência com a palavra “natureza”, em todos os seus estudos e análises da existência, mas o seu amor foi o Verbo da criação do princípio, como é e será a coroa gloriosa dos seres terrestres na imortalidade sem-fim. [...] Daí a algum tempo, na crosta solidificada do planeta, como no fundo dos oceanos, podia-se observar a existência de um elemento viscoso que cobria toda a Terra. Estavam dados os primeiros passos no caminho da vida organizada. Com essa massa gelatinosa, nascia no orbe o protoplasma e, com ele, lançara Jesus à superfície do mundo o germe sagrado dos primeiros homens.
Precisamos conhecer e sentir mais Jesus, estudar com dedicação os seus ensinos, aceitar o seu jugo, divulgando a sua mensagem de amor.
Jesus, cuja perfeição se perde na noite imperscrutável das eras, personificando a sabedoria e o amor, tem orientado todo o desenvolvimento da humanidade terrena, enviando os seus iluminados mensageiros, em todos os tempos, aos agrupamentos humanos e [...] desde que o homem conquistou a racionalidade, vem-lhe fornecendo a ideia da sua divina origem, o tesouro das concepções de Deus e da imortalidade do Espírito, revelando-lhe, em cada época, aquilo que a sua compreensão pode abranger.

Entendemos, dessa forma, por que os Espíritos superiores afirmam ser Jesus guia e modelo da Humanidade.
Para o homem, Jesus constitui o tipo da perfeição moral a que a Humanidade pode aspirar na Terra. Deus no-lo oferece como o mais perfeito modelo e a doutrina que ensinou é a expressão mais pura da lei do Senhor, porque, sendo Ele o mais puro de quantos têm aparecido na Terra, o Espírito divino o animava.
2. A mensagem cristã
Jesus tem por missão encaminhar a humanidade terrestre ao bem, disponibilizando condições para que o ser humano evolua em conhecimento e em moralidade. “Tendo por missão transmitir aos homens o pensamento de Deus, somente a sua doutrina, em toda a
pureza, pode exprimir esse pensamento. Por isso foi que Ele disse: Toda planta que meu Pai celestial não plantou será arrancada.”
A vinda de Jesus foi assinalada por uma época especial. Os historiadores do Império Romano sempre observaram com espanto os profundos contrastes da gloriosa época de Augusto (Caio Júlio César Otávio), o primeiro imperador romano, com os períodos anteriores e posteriores.
É que os historiadores ainda não perceberam, na chamada época de Augusto, o século do Evangelho ou da Boa Nova. Esqueceram-se de que o nobre Otávio era também homem e não conseguiram saber que, no seu reinado, a esfera do Cristo se aproximava da Terra, numa vibração profunda de amor e de beleza.
Jesus chegou ao Planeta no reinado do sobrinho de Júlio César, Otávio, também conhecido como Augusto César.
Acercavam-se de Roma e do mundo não mais Espíritos belicosos [...], porém outros que se vestiriam dos andrajos dos pescadores, para servirem de base indestrutível aos eternos ensinos do Cordeiro. Imergiam nos fluidos do planeta os que preparariam a vinda do Senhor e os que se transformariam em seguidores humildes e imortais dos seus passos divinos. É por essa razão que o ascendente místico da era de Augusto se traduzia na paz e no júbilo do povo que, instintivamente, se sentia no limiar de uma transformação celestial. Ia chegar à Terra o sublime Emissário. Sua lição de verdade e de luz ia espalhar-se pelo mundo inteiro, como chuva de bênçãos magníficas e confortadoras.
A Humanidade vivia, então, o século da Boa Nova.
A vinda do Cristo mostra que a Humanidade estava em condições de receber ensinamentos superiores. “Começava a era definitiva da maioridade espiritual da humanidade terrestre, uma vez que Jesus, com a sua exemplificação divina, entregaria o código da fraternidade e do amor a todos os corações.”
Jesus nasceu num momento em que o mundo estava mergulhado numa miscelânea de ideias religiosas, predominantemente politeístas.
O “[...] mundo era um imenso rebanho desgarrado. Cada povo fazia da religião uma nova fonte de vaidades, salientando-se que muitos cultos religiosos do Oriente caminhavam para o terreno franco da dissolução e da imoralidade [...].”
O [...] Cristo vinha trazer ao mundo os fundamentos eternos da verdade e do amor. Sua palavra, mansa e generosa, reunia todos os infortunados e todos os pecadores. Escolheu os ambientes mais pobres e mais desataviados para viver a intensidade de suas lições sublimes, mostrando
aos homens que a verdade dispensava o cenário suntuoso dos areópagos, dos fóruns e dos templos, para fazer-se ouvir na sua misteriosa beleza. Suas pregações, na praça pública, verificam-se a propósito dos seres mais desprotegidos e desclassificados, como a demonstrar
que a sua palavra vinha reunir todas as criaturas na mesma vibração de fraternidade e na mesma estrada luminosa do amor. Combateu pacificamente todas as violências oficiais do Judaísmo,
renovando a Lei Antiga com a doutrina do esclarecimento, da tolerância e do perdão.
Espalhou as mais claras visões da vida imortal, ensinando às criaturas terrestres que existe algo superior às pátrias, às bandeiras, ao sangue e às leis humanas. Sua palavra profunda, enérgica e misericordiosa, refundiu todas as filosofias, aclarou o caminho das ciências e já teria
irmanado todas as religiões da Terra, se a impiedade dos homens não fizesse valer o peso da iniquidade na balança da redenção.21

SIMEÃO E O MENINO (Pontos e Contos)

Dizem que Simeão, o velho Simeão, homem justo e temente a Deus, mencionado no Evangelho de Lucas, após saudar Jesus criança, no templo de Jerusalém, conservou-o nos braços acolhedores de velho, a distância de José e Maria, e dirigiu-lhe a palavra, com discreta emoção:
-Celeste Menino – perguntou o patriarca -, porque preferiste a palha humilde da Manjedoura? Já que vens representar os interesses do Eterno Senhor na Terra, como não vestiste a púrpura imperial? Como não nasceste ao lado de Augusto, o divino, para defender o flagelado povo de Israel? Longe dos senhores romanos, como advogarás a causa dos humildes e dos justos?
Porque não vieste ao pé daqueles que vestem a toga dos magistrados? Então, podereis ombrear com os patrícios ilustres, movimentar-te-ias entre legionários e tribunos, gladiadores e pretorianos, atendendo-nos à libertação... Porque não chegaste, como Moisés, valendo-se do prestígio da casa do faraó? Quem te preparará, Embaixador Eterno, para o ministério santo?
Que será de ti, sem lugar no Sinédrio? Samuel mobilizou a força contra os filisteus, preservando-nos a superioridade: Saul guerreou até a morte, por manter-nos a dominação; David estimava o fausto do poder: Salomão, prestigiado por casamento de significação política, viveu para administrar os bens enormes que lhe cabiam no mundo... Mas... tu? Não te ligaste aos príncipes, nem aos juízes, nem aos sacerdotes... Não encontrarias outro lugar, além do estábulo singelo?...
Jesus menino escutou-o, mostrou-lhe sublime sorriso, mas o ancião, tomado de angústia, contemplou-o, mais detidamente, e continuou:
- Onde representarás os interesses do Supremo Senhor? Sentar-te-ás entre os poderosos?
Escreverás novos livros da sabedoria? Improvisará discursos que obscureçam os grandes oradores de Atenas e Roma? Amontoarás dinheiro suficiente para redimir os que sofrem?
Erguerás novo templo de pedra, onde o rico e o pobre aprendam a ser filhos de Deus? Ordenará a execução da lei, decretando medidas que obrigam a transformação imediata de Israel? Depois de longo intervalo, indagou em lágrimas:
- Dize-me, ó Divina Criança, onde representarás os interesses de nosso Supremo Pai?
O menino tenro ergueu, então, a pequenina destra e bateu, muitas vezes, naquele peito envelhecido que se inclinava já para o sepulcro...
Nesse instante, aproximou-se Maria e o recolheu nos braços maternos. Somente após a morte do corpo. Simeão veio, a saber, que o Menino Celeste não o deixara sem resposta.
O infante Sublime, no gesto silencioso, quisera dizer que não vinha representar os interesses do Céu nas organizações respeitáveis, mas efêmeras da Terra. Vinha da Casa do Pai justamente para representá-Lo no coração dos homens.


Como se se deixasse empolgar por amorosos temores, Maria continuou:
Ainda há alguns dias, estivemos em Jerusalém, nas comemorações costumeiras,
e a facilidade de argumentação com que Jesus elucidava os problemas, que lhe
eram apresentados pelos orientadores do templo, nos deixou a todos receosos e
perplexos. Sua ciência não pode ser deste mundo: vem de Deus, que certamente
se manifesta por seus lábios amigos da pureza. Notando-lhe as respostas, Eleazar
chamou a José, em particular, e o advertiu de que o menino parece haver nascido
para a perdição de muitos poderosos em Israel.
Com a prima a lhe escutar atentamente a palavra, Maria prosseguiu, de olhos
úmidos, após ligeira pausa:
Ciente desse aviso, procurei Eleazar, a fim de interceder por Jesus, junto de suas
valiosas relações com as autoridades do templo. Pensei na sua infância desprotegida e receio pelo seu futuro. Eleazar prometeu interessar-se pela sua sorte; todavia, de regresso a Nazaré, experimentei singular multiplicação dos meus temores.
Conversei com José, mais detidamente, acerca do pequeno, preocupada com o
seu preparo conveniente para a vida!... Entretanto, no dia que se seguiu às nossas
íntimas confabulações, Jesus se aproximou de mim, pela manhã, e me interpelou:
“Mãe, que queres tu de mim? Acaso não tenho testemunhado a minha comunhão
com o Pai que está no Céu!
Altamente surpreendida com a sua pergunta, respondi-lhe, hesitante: Tenho
cuidado por ti, meu filho! Reconheço que necessitas de um preparo melhor para a
vida... Mas, como se estivesse em pleno conhecimento do que se passava em
meu íntimo, ponderou ele: “Mãe, toda preparação útil e generosa no mundo é
preciosa; entretanto, eu já estou com Deus. Meu Pai, porém, deseja de nós toda a
exemplificação que seja boa e eu escolherei, desse modo, a escola melhor”.
No mesmo dia, embora soubesse das belas promessas que os doutores do templo
fizeram na sua presença a seu respeito, Jesus aproximou-se de José e lhe pediu,
com humildade, o admitisse em seus trabalhos. Desde então, como se nos
quisesse ensinar que a melhor escola para Deus é a do lar e a do esforço próprio
concluiu a palavra materna com singeleza —, ele aperfeiçoa as madeiras da
oficina, empunha o martelo e a enxó, enchendo a casa de ânimo, com a sua doce
alegria!


A mensagem cristã causa impacto por ser límpida e cristalina, livre de fórmulas iniciáticas ou de manifestações de culto externo.
Não se reveste o ensinamento de Jesus de quaisquer fórmulas complicadas.
Guardando embora o devido respeito a todas as escolas de revelação da fé com os seus colégios iniciáticos, notamos que o Senhor desce da Altura, a fim de libertar o templo do coração humano para a amor e do conhecimento. Para isso, o Mestre não exige que os homens se façam
heróis ou santos de um dia para outro. Não pede que os seguidores pratiquem milagres, nem lhes reclama o impossível. Dirige-se a palavra dele à vida comum, aos campos mais simples do sentimento, à luta vulgar e às experiências de cada dia.32

Aqui compartilhamos um diálogo de Jesus com um sacerdote chamado Hanã, que seria mais tarde o juiz que condena Jesus
Galileu, que fazes na cidade?
Passo por Jerusalém, buscando a fundação do Reino de Deus! exclamou o
Cristo, com modesta nobreza.
Reino de Deus? tornou o sacerdote com acentuada ironia. E que pensas tu
venha a ser isso?
Esse Reino é a obra divina no coração dos homens! esclareceu Jesus, com
grande serenidade.
Obra divina em tuas mãos? revidou Hanã, com uma gargalhada de desprezo.
E, continuando as suas observações irônicas, per guntou:
Com que contas para levar avante essa difícil empresa? Quais são os teus
seguidores e companheiros?... Acaso terás Conquistado o apoio de algum
príncipe desconhecido e ilustre, para auxiliar-te na execução de teus planos?
Meus companheiros hão de chegar de todos os lugares respondeu o Mestre com
humildade.
Sim observou Hanã —, os ignorantes e os tolos estão em toda parte na Terra.
Certamente que esse representará o material de tua edificação. Entretanto,
propões-te realizar uma obra divina e já viste alguma estátua perfeita modelada
em fragmentos de lama?
• Sacerdote replicou-lhe Jesus, com energia se ren —, nenhum mármore existe
mais puro e mais formoso do que o do sentimento, e nenhum cinzel é superior ao
da boa-vontade.
Impressionado com a resposta firme e inteligente, o famoso juiz ainda interrogou:
Conheces Roma ou Atenas?
Conheço o amor e a verdade disse Jesus convictamente.
Tens ciência dos códigos da Corte Provincial e das leis do Templo? inquiriu Hanã,
inquieto.
Sei qual é a vontade de meu Pai que está nos céus respondeu o Mestre,
brandamente.
O sacerdote o contemplou irritado e, dirigindo-lhe um sorriso de profundo
desprezo, demandou a Torre Antônia, em atitude de orgulhosa superioridade.
A despeito do caráter reformador que Jesus imprimiu à Lei de Deus, recebida mediunicamente por Moisés e conhecida como os Dez Mandamentos, na verdade o Cristo ensinou como compreendê-la e demonstrou como praticá-la.
Jesus não veio destruir a lei, isto é, a lei de Deus; veio cumpri-la, isto é, desenvolvê-la, dar-lhe o verdadeiro sentido e adaptá-la ao grau de adiantamento dos homens. Por isso é que se nos depara, nessa lei, os princípios dos deveres para com Deus e para com o próximo, base da sua doutrina. [...] combatendo constantemente o abuso das práticas exteriores e as falsas interpretações, por mais radical reforma não podia fazê-las passar, do que as reduzindo a esta única prescrição:
“Amar a Deus acima de todas as coisas e o próximo como a si mesmo”,
e acrescentando: aí estão a lei toda e os profetas.1
A CONDUTA CRISTÃ (Contos e Apólogos)
Ibraim ben Azor, o cameleiro, entrou na residência acanhada de Simão e, à frente do Cristo, que o fitava de olhos translúcidos, pediu instruções da Boa-Nova, ao que Jesus respondeu com a doçura habitual, tecendo considerações preciosas e simples, em torno do Reino de Deus no coração dos homens.
– Mestre – perguntou Ibraim, desejando conhecer as normas evangélicas –, na hipótese de aceitar a nova revelação, como me comportarei. perante as criaturas de má-fé?
– Perdoarás e trabalharás sempre, fazendo quanto possível para que se coloquem no nível
de tua compreensão, desculpando-as e amparando-as, infinitamente.
– E se me cercarem todos os dias?
– Continuarás perdoando e trabalhando a benefício delas.
– Mestre – invocou Ibraim, admirado –, a calúnia é um braseiro a requeimar-nos o coração...
Admitamos que tais pessoas me vergastem com frases cruéis e apontamentos injustos...
Como proceder quando me enlamearem o caminho, atirando-me flechas incendiadas?
– Perdoarás e trabalharás sem descanso, possibilitando a renovação do pensamento que a
teu respeito fazem.
– E se me ferirem? Se a violência sujeitar-me à poeira e a traição golpear-me pelas costas?
Se meu sangue correr, em louvor da perversidade?
– Perdoarás e trabalharás, curando as próprias chagas, com a disposição de servir,
invariavelmente, na certeza de que as leis do Justo Juiz se cumprirão sem prejuízo dum
ceitil.
– Senhor – clamou o consulente desapontado –, e se a pesada mão dos ignorantes
ameaçar-me a casa? se a maldade perseguir-me a família, dilacerando os meus nos
interesses mais caros?
– Perdoarás e trabalharás a fim de que a normalidade se reajuste sem ódios,
compreendendo que há milhões de seres na Terra fustigados por aflições maiores que a tua, cabendo-nos a obrigação de auxiliar, não somente os que se fazem detentores do nosso bem-querer, mas também a todos os irmãos em Humanidade que o Pai nos recomenda amar e ajudar, incessantemente.
Ibraim, assombrado, indagou, de novo :
– Senhor, e se me prenderem por homicida e ladrão, sem que eu tenha culpa?
– Perdoarás e trabalharás, agindo sempre segundo as sugestões do bem, convencido de
que o homem pode encarcerar o corpo, mas nunca algemará a idéia pura, nobre e livre.
– Mestre – prosseguiu o cameleiro, intrigado –, e se me prostrarem no leito? Se me crivarem
de úlceras, impossibilitando-me qualquer ação? Como trabalhar de braços imobilizados,
quando nos resta apenas o direito de chorar?
– Perdoarás e trabalharás com o sorriso da paciência fiel, cultivando a oração e o
entendimento no espírito edificado, confiando na Proteção do Pai Celestial que envia socorro e alimento aos próprios vermes anônimos do mundo.
– Mestre, e se, por fim, me matarem? se depois de todos os sacrifícios aparecer a morte por estrada inevitável?
– Demandarás o túmulo, perdoando e trabalhando na ação gloriosa, em benefício de todos, conservando a paz sublime da consciência.
Entre estupefato e aflito, Ibraim voltou a indagar depois de alguns instantes:
– Senhor, e se eu conseguir tolerar os ignorantes e os maus, ajudando-os e recebendo-lhes os insultos como benefícios, oferecendo a luz pela sombra e o bem pelo mal, se encarar, com serenidade, os golpes arremessados contra os meus, se receber feridas e sarcasmos sem reclamação e se aceitar a própria morte, guardando sincera compaixão por meus algozes? Que lugar destacado me caberá, diante da grandeza divina? que título honroso exibirei?
Jesus, sem alterar-se, considerou :
– Depois de todos os nossos deveres integralmente cumpridos, não passamos de meros
servidores, à face do Pai, a quem pertence o Universo, desde o grão de areia às estrelas distantes.
Ibraim, conturbado, levantou-se, chamou o dono da casa e perguntou a Pedro se aquele
homem era realmente o Messias. E quando o pescador de Cafarnaum confirmou a identidade do Mestre, o cameleiro, carrancudo, qual se houvesse recebido grave ofensa,
avançou para fora e seguiu para diante, sem dizer adeus

NO CAMINHO DO AMOR (Contos e Apólogos)

Em Jerusalém, nos arredores do Templo, adornada mulher encontrou um nazareno, de olhos fascinantes e lúcidos, de cabelos delicados e melancólicos sorriso, e fixou-o estranhamente.
Arrebatada na onda de simpatia a irradiar-se dele, corrigiu as dobras da túnica muito alva;
colocou no olhar indizível expressão de doçura e, deixando perceber, nos meneios do corpo frágil, a visível paixão que a possuíra de súbito, abeirou-se do desconhecido e falou, ciciante:
-Jovem, as flores de Séforis encheram-me a ânfora do coração com deliciosos perfumes.
Tenho felicidade ao teu dispor, em minha loja de essências finas...
Indicou extensa vila, cercada de rosas, à sombra de arvoredo acolhedor, e ajuntou:
-Inúmeros peregrinos cansados me buscam a procura do repouso que reconforta. Em minha primavera juvenil, encontram o prazer que representa a coroa da vida. E' que o lírio do vale não tem a carícia dos meus braços e a romã saborosa não possui o mel de meus lábios.
Vem e vê! Dar-te-ei leito macio, tapetes dourados e vinho capitoso ... Acariciar-te-ei a fronte abatida e curar-te-ei o cansaço da viagem longa! Descansarás teus pés em água de nardo e ouvirás, feliz, as harpas e os alaúdes de meu jardim. Tenho a meu serviço músicos e dançarinas, exercitados em palácios ilustres!...
Ante a incompreensível mudez do viajor, tornou, súplice, depois de leve pausa:
-Jovem, porque não respondes? Descobri em teus olhos diferentes chama e assim procedo por amar-te. Tenho sede de afeição que me complete a vida. Atende! Atende!...
Ele parecia não perceber a vibração febril com que semelhantes palavras eram pronunciadas e, notando-lhe a expressão fisionômica indefinível, a vendedora de essências acrescentou uma tanto agastada:
-Não virás?
Constrangido por aquele olhar esfogueado, o forasteiro apenas murmurou:
-Agora, não. Depois, no entanto, quem sabe?!...
A mulher, ajaezada de enfeites, sentindo-se desprezada, prorrompeu em sarcasmos e partiu.
Transcorridos dois anos, quando Jesus levantava paralítico, ao pé do Tanque de Betesda,
venerável anciã pediu-lhe socorro para infeliz criatura, atenazada de sofrimento.
O Mestre seguiu-a, sem hesitar.
Num pardieiro denegrido, um corpo chagado exalava gemido angustioso.
A disputada marcadora de aromas ali se encontrava carcomida de úlceras, de pele
enegrecida e rosto disforme. Feridas sanguinolentas pontilhavam-lhe a carne, agora
semelhante ao esterco da terra. Exceção dos olhos profundos e indagadores, nada mais lhe restava da feminilidade antiga. Era uma sombra leprosa, de que ninguém ousava aproximar.
Fitou o Mestre e reconheceu-o.
Era o mesmo mancebo nazareno, de porte sublime e atraente expressão.
O Cristo estendeu-lhe os braços, tocados de intraduzível ternura e convidou:
-Vem a mim, tu que sofres! Na Casa de Meu Pai, nunca se extingue a esperança.
A interpelada quis recuar, conturbada de assombro, mas não conseguiu mover os próprios
dedos, vencida de dor.
O Mestre, porém, transbordando compaixão, prosternou-se fraternal, e conchegou-a, de
manso...
A infeliz reuniu todas as forças que lhe sobravam e perguntou, em voz reticenciosa e dorida
-Tu?... O Messias nazareno?... O Profeta que cura, reanima e alivia?!... Que viste fazer, junto de mulher tão miserável quanto eu?
Ele, contudo, sorriu benevolente, retrucando apenas:
-Agora, venho satisfazer-te os apelos.
E, recordando-lhe a palavra do primeiro encontro, acentuou, compassivo:
-Descubro em teus olhos diferentes chama e assim procedo por amar-te.

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Poder da fé

1. Quando Ele veio ao encontro do povo, um homem se lhe aproximou e, lançando- se de joelhos a seus pés, disse: “Senhor, tem piedade d...