A MISSÃO DO BRASIL COMO PÁTRIA DO EVANGELHO por Célia Urquiza de Sá
CAPÍTULO I - BRASIL, CORAÇÃO DO MUNDO, PATRIA DO
EVANGELHO.
O Espírito Humberto de Campos, no seu livro
psicografado por Chico Xavier e que tem como título estas palavras:
"Brasil, Coração do Mundo, Pátria do Evangelho", nos afirma que Jesus
transportou a árvore do Evangelho, da Palestina para o Brasil. Por que Jesus
fez isso? Terá sido privilégio nosso? O que
fizemos para merecê-lo? Se não foi privilégio, o que aconteceu, para que
essa árvore plantada inicialmente na
Palestina, não permanecesse lá, e viesse para cá? Esta afirmação do autor
espiritual, nos leva a uma série de indagações. Façamos um estudo sobre elas. É possível que as
respostas surjam no decorrer do mesmo.
Todos nós sabemos que Jesus é o Espírito a
quem foram confiados os destinos do nosso Planeta. É aquele que foi por Deus
enviado, com a missão de ser o Pastor das ovelhas aqui existentes; e como
Pastor desse rebanho, Ele nos conduz, cuidando para que nenhuma se perca. Foi
para isso, então, que Ele veio um dia à Terra, assumiu um corpo semelhante ao
nosso; conviveu conosco, tornando-se visível e tangível. A sua vinda foi em
cumprimento à sua missão. Veio nos apontar o caminho que devemos trilhar, para
que um dia, ao devolver esse rebanho ao Pai, Ele possa dizer que das ovelhas
que lhe foram confiadas, nenhuma se perdeu.
Inicialmente, foi à Palestina, a Terra
escolhida para espalhar a semente do seu Evangelho. Mas, grande número dos que
ali habitavam, estavam dominados pelo orgulho, pela ambição, pela sede de poder
e grandezas, a ponto de não o aceitarem como o Messias Prometido, só por não
ter nascido no seio da nobreza. Ele se apresentou ao Mundo, como filho de um
humilde carpinteiro. Ali, as suas lições tiveram pouco eco. Poucos o ouviram e
poucos O seguiram. Então, Ele escolheu outra Terra, para novamente semear o Seu
Evangelho. Não havendo eco na Palestina, Jesus escolheu o Brasil para porta-voz
das Suas lições.
Fomos nós os escolhidos, mas, não por
privilégio. Por missão. Foi-nos confiada à tarefa de aprender, vivenciar, e
espalhar os seus ensinamentos. Então se repetiu no Brasil, o que aconteceu na
Palestina, quando se aproximou o momento da Sua vinda. Houve naquela ocasião,
todo um preparo, para o bom êxito do Seu nascimento, da Sua permanência ali,
naquela época. Uma série de cuidados foi tomada. Uma grande equipe espiritual,
justamente aquela que mais diretamente executa as Suas ordens, cuidou para que
tudo acontecesse na forma mais perfeita. Sob a inspiração dos espíritos superiores,
os profetas anunciaram; os precursores prepararam os caminhos e tudo foi
cuidadosamente planejado e executado. No Brasil, aconteceu o mesmo. Verificando
o nosso Mestre que havia chegado a época para transplantar a sua árvore, tendo
já escolhido a Terra que iria recebê-la, mais uma vez uma grande equipe
espiritual foi convocada. Não se tem conhecimento, mas, é possível que tenha
sido a mesma que tudo fez na Palestina; e tomou todos os cuidados para que
novamente, tudo saísse a contento. Essa equipe cuidou da nossa Terra a partir
da forma geográfica, semelhante a um coração; cuidou também da sua estrutura.
Aqui, não temos as grandes catástrofes, tais como: terremotos, vulcões,
maremotos, furacões, ciclones. Isso foi privilégio nosso? Não, pois Deus não privilegia
ninguém. Em nenhum ponto merecemos mais que os nossos irmãos de outras Terras
que sofrem essas calamidades. Tudo isso foi porque esta Terra se transformaria
mais tarde na Pátria do Evangelho e como tal, faziam-se necessários todos esses
cuidados, para que o seu povo, não estando às voltas com as grandes
catástrofes, pudesse se dedicar mais à árvore que para cá seria transportada.
Cuidou também da formação do nosso povo. Não viemos de um povo orgulhoso,
prepotente, elitizado. Somos o resultado da união de três raças sofridas. Somos
a miscigenação do branco injustiçado, muitos dos portugueses que para cá
vieram, banidos do seu país, eram inocentes, não mereciam aquela punição; do
negro escravizado e do índio, ser em primário estágio evolutivo. Somos o resultado
da união dessas três raças e de cada uma delas temos características. Do branco
injustiçado temos a inquietação diante da injustiça; do negro escravizado temos
a submissão, a aceitação da dor, do sofrimento; e do índio temos a
indomabilidade. Por que tudo isso? A resposta é muito simples. Porque nada
ensina mais a amar e a perdoar, do que a dor e o sofrimento. Também porque, só
nascendo dessa simplicidade é que o povo brasileiro poderia ser o que é:
sentimental, solidário, amigo, como nenhum outro no mundo. Na Palestina, Jesus
iniciou, a Sua vida pública, com o "Sermão da Montanha", dizendo:
"Bem-aventurados os que choram, porque serão consolados; (...)
Bem-aventurados os que têm fome e sede de justiça, porque serão saciados; (...)
Bem-aventurados os puros de coração, por que verão a Deus".
O branco inocente, banido injustamente do
seu país, e o negro arrancado à força do seu berço, representam os que choram e
os que têm fome e sede de justiça; o índio representa os puros de coração.
Somos o resultado da união dos injustiçados, dos que choram e dos puros de
coração. No Brasil, Jesus nos apresentou também o "Sermão da
Montanha", o Seu grandioso e mais belo sermão através da formação do nosso
povo, mostrando dessa forma que estava, realmente, replantando a árvore do Seu
Evangelho. Humberto de Campos no seu livro nos faz um relato do nascimento do
Brasil. Não um relato histórico. Ele apresenta o aspecto espiritual desse fato.
Ele fala das providências tomadas, desde muito antes da viagem de Cabral e, à medida
que mostra o trabalho e o cuidado dos Espíritos que acompanharam e participaram
de cada episódio, nos esclarece também sobre a missão evangélica do Brasil. O
seu relato é muito cheio de beleza e poesia. Em muitas ocasiões, ele nos mostra
o diálogo de Jesus, no mundo espiritual, com os Seus mensageiros, à medida que
vai traçando planos e tomando decisões, quanto ao nosso destino de filhos da
Pátria do Evangelho. Logo no início, ele nos conta que Jesus, numa das suas
visitas espirituais a este Planeta, encaminhou-se ao continente que seria mais
tarde o mundo americano, e quando contemplou as maravilhas dessa terra onde
resplandece o cruzeiro do sul, e que seria o Brasil, erguendo as mãos para o
Alto, invoca a bênção do Pai, e dirigindo-se a um dos Seus mensageiros,
exclama: - Para esta terra maravilhosa e bendita, será transplantada a árvore
do Meu Evangelho de piedade e de amor, (...) e Tu Helil, te corporificarás na
Terra, no seio do povo mais pobre e mais trabalhador do Ocidente; instituirás
um roteiro de coragem, para que sejam transpostas as imensidades desses oceanos
perigosos e solitários, que separam o Velho do Novo Mundo (...)
“Aqui, Helil, sob a luz misericordiosa das
estrelas da cruz, ficará localizado o coração do mundo”. Algum tempo depois, no
ano de 1 394, como filho de D. João I e D. Filipa de Lencastre, reencarna em
solo português, Helil, que ficará conhecido na História Universal como o heroico
Infante de Sagres; aquele que foi o grande responsável pelos descobrimentos
portugueses. Quando o Rei D. João I subiu ao trono, Portugal estava numa
situação econômica desesperadora. Todo o poder econômico estava de posse da
Igreja e o Rei não podia desenvolver o País. Então, para de alguma forma
alterar a situação, sem entrar em conflito com o poder religioso, nomeou os
seus filhos, responsáveis por cada Ordem Religiosa, e foi assim, que o Infante
D. Henrique foi nomeado o Grão Mestre da Ordem de Cristo. Essa Ordem era
secular e muito rica, tanto em dinheiro, como em informações históricas, e isso
levou o Infante de Sagres a tomar conhecimento de antigos manuscritos, ali
guardados, que falavam de outros povos e as rotas dos povos antigos.
Os recursos ali existentes, que não eram
poucos, pois era uma das Ordens mais ricas do País, o Infante utilizou na
construção de navios, na contratação de astrônomos, matemáticos, engenheiros
navais e outros homens de saber, para dar início ao seu grande sonho que era
como ele próprio dizia: "levar o mundo a navegar por mares nunca dantes
navegados". Hoje, sabemos ter sido esta a sua missão Foi dessa forma que
se iniciaram os descobrimentos. Foi assim que o nosso Helil, o nosso Infante de
Sagres cumpriu a sua missão. "Os descobrimentos brotaram da sua vontade,
quando os contemporâneos o remordiam de censuras por este afinco nas pesquisas
do Atlântico. Triunfou. E se Portugal varou de pasmo a Europa, ganhando as
honras de nação benemérita dos povos modernos, os primeiros e os mais decisivos
impulsos eram do Infante Dom Henrique". (Bérni, p. 60) Humberto de Campos
na sua obra, informa que o Infante D. Henrique, por várias vezes deixou
transparecer que tinha a certeza da existência de terras, ainda desconhecidas.
Era como se ele fosse às vezes, assaltado por lembranças que lhe davam essa
segurança.
Hoje sabemos que essas lembranças vinham do
fato dele já ter estado aqui, antes deste seu reencarne, e foi na nossa Terra,
ainda desconhecida, que ele recebeu do Mestre a missão que soube tão bem
desempenhar. Uma prova disso é que um mapa traçado em 1448, por André de Bianco,
mencionava uma região fronteira à África. Não era, portanto, desconhecida dos
navegadores portugueses a existência dessas terras.
Desencarnando em 1460, D. Henrique de
Sagres volta à Pátria Espiritual e, no além, o mensageiro do Mestre continua a
trabalhar na causa do Evangelho. Por inspiração sua, diversas expedições são
organizadas, e sob a sua influência é descoberta a Costa de Angola; mais tarde,
Vasco da Gama descobre o caminho marítimo das Índias, e algum tempo depois,
Gaspar de Corte Real descobre o Canadá. Todos os navegadores saem de Lisboa com
instruções secretas quanto à terra desconhecida.
Percebe-se claramente a preocupação do autor espiritual
em nos chamar a atenção para vários pontos importantes. São eles: Os
planejamentos da Espiritualidade Superior; O infante D. Henrique, encarnação do
Espírito Helil, foi um emissário de Jesus. Como Espírito de elevada hierarquia,
permaneceu adstrito ao cumprimento da tarefa que lhe fora atribuída.
D.Henrique, instituiu um roteiro de coragem, para que fossem transpostas as
imensidades perigosas e solitárias que separavam os dois mundos Por
predestinação de Jesus, o nosso Brasil é o Coração do Mundo e Pátria do
Evangelho, com a árdua, mas nobre tarefa de espalhar, principalmente com o
exemplo, a mensagem do Cristo. (Bérni, op. cit. p 68) que: A preocupação do
autor espiritual era nos mostrar que nada aconteceu por acaso. Tudo foi fruto
de um cuidadoso planejamento; o Infante D. Henrique, encarnação do espírito
Helil, foi um emissário de Jesus, como também não deixa nenhuma dúvida quanto à
sua missão; a sua afirmação de que Helil é um Espírito de elevada hierarquia, é
a confirmação do que foi dito por Zurara, navegador e historiador português,
quando em uma de suas crônicas, retrata o Infante de Sagres como "um homem
de extraordinárias virtudes. Nunca foi avarento, nem era dado ao luxo. Usava
gestos calmos e palavras suaves. Sempre foi muito dedicado ao trabalho. Não era
rude, mas sabia manter a disciplina. Absteve-se de álcool desde a
mocidade".
Ainda temos: "O terceiro filho de Dom
João 1 e de Dona Filipa (...) poderia viajar de Corte para Corte como o irmão
Dom Pedro, mas recusou todas as ofertas da Inglaterra, da Itália e da Alemanha,
e escolheu a vida de um estudioso e de um homem de mar, retirando-se cada vez
mais do mundo conhecido para descobrir o desconhecido". (Beazley, 1945, p.
135).
Era como se ele estivesse a todo o momento
dizendo ao mundo que sabia qual a sua missão e tinha pressa em cumpri-la. Ao
escolher o Brasil para transplantar a árvore do Evangelho, Jesus nos deu a
missão de transmitir ao mundo a Sua mensagem; mas com a Sua conduta,
vivenciando tudo aquilo que ensinava, mostrou também como Ele deseja que essa
missão seja cumprida: com o exemplo.
CAPÍTULO II - DESCOBRIMENTO DA TERRA DE VERA CRUZ
No dia 9 de março de 1500, partindo do
rio Tejo, fez-se ao mar a grande esquadra de Cabral, com destino às Índias. A
frota era constituída de treze navios, algumas caravelas e duas embarcações,
conduzindo a bordo cerca de 1 .200 participantes. Já em alto mar, Cabral pensa
no seu desejo de alcançar a terra desconhecida do hemisfério sul, criando assim
a sintonia necessária com os planos do mundo invisível. Henrique de Sagres
aproveita essa oportunidade, e, sob a sua influência, as noites de Cabral são
repletas de sonhos reveladores e,
sob o impulso de uma orientação
imperceptível, as caravelas abandonam o caminho das Índias.
Há em todos uma angustiosa expectativa,
mas a assistência espiritual lhes traz ânimo e esperança. Algum tempo depois,
notam-se nas ondas folhas, flores e perfumes. Eram os primeiros sinais de terra
próxima. Horas depois, Cabral e sua gente são recebidos como irmãos, na praia
extensa e acolhedora, pelos habitantes dessa Terra. Estava descoberta a Terra
que seria um dia o Coração do Mundo, Pátria do Evangelho.
Continuando o seu relato, o espírito
Humberto de Campos nos fala de acontecimentos completamente ignorados pela
história humana. Conta-nos que, enquanto Cabral adentrava à terra descoberta,
conhecendo a sua gente, as suas riquezas, no Mundo espiritual reinava uma
alegria intensa em todos aqueles que participaram do advento da Pátria do
Evangelho.
Dias após, o Mestre Jesus fazendo-se
presente à uma das assembleias espirituais, dirigindo-se a outro dos Seus
elevados mensageiros, falou com doçura: - "Ismael, doravante sejas o
zelador dos patrimônios imortais que constituem a Terra do Cruzeiro. Recebe-a
nos teus braços de trabalhador devotado da minha seara, como a recebi no
coração, obedecendo a sagradas inspirações do Nosso Pai (...) Para aí
transplantei a árvore da minha misericórdia e espero que a cultives com a tua
abnegação e com o teu sublimado heroísmo..."
(Xavier Francisco Cândido, op. cit.1996)
Ismael é um nome bastante conhecido no mundo espírita. Ele é o Guia Espiritual
do Brasil, e conforme afirma Humberto de Campos, essa missão ele a recebeu
diretamente de Jesus. O seu lema é: "DEUS,CRISTO E CARIDADE".
Conta ainda o autor espiritual que,
nesse mesmo instante, a frota de Cabral abandona as águas da Baía de Porto
Seguro, continuando a sua viagem, e na praia, choram desesperadamente, dois dos
vinte párias sociais condenados ao exílio. Enquanto os homens do mar se
afastavam levando amostras das riquezas encontradas na nova terra, os dois
infelizes se lastimavam sem consolo e sem esperança. De repente, um dos
condenados avança para uma frágil embarcação
indígena, que nenhuma proteção oferecia,
e se faz ao mar. "Seus olhos inchados do pranto, contemplam as duas
imensidades, a do céu e a do mar, e esperando na morte o socorro bondoso,
exclama: -"Jesus, tende piedade! Sou inocente, Senhor, e padeço a tirania
da injustiça dos homens. Enviai a morte ao meu espírito." ( Xavier,
Francisco Cândido, op. cit. 1996, p 39) Nesse instante, sente que uma luz
estranha lhe nasce no íntimo,e uma esperança se apossa de sua alma, e como por
milagre, a frágil e rústica embarcação, que sob o seu impulso, momentos antes,
navegava rumo ao infinito, inesperadamente passa a navegar
em sentido contrário, regressando
celeremente à praia distante. O furor das ondas não foi suficiente para
arrebatá-la. Uma força misteriosa a conduz em segurança à terra firme.
Afirma-nos o autor espiritual que, salvando esse nosso irmão infeliz, desesperado,
buscando a morte, Ismael realiza o seu primeiro trabalho nas Terras do Cruzeiro,
em favor daqueles que acabara de receber sob a sua proteção. Esses nossos
irmãos, que para cá vieram banidos injustamente do seu país, eram inocentes
naquela existência.
Porém, por culpas do passado mereciam o
castigo que receberam. Se eles cumpriram o seu resgate, vivendo as experiências
da humilhação, da dificuldade, da opressão e da dor, com certeza foi porque foi nesse ponto que eles
infringiram a Lei Divina. É a Lei do Retorno, a Lei de Causa e Efeito. É o
conhecimento dos atributos divinos que nos dá esta certeza. Deus é a justiça
Infinita, e nessa condição, toda ofensa à Sua Lei é merecedora de resgate.
Capítulo III - A ESCRAVIDÃO NO BRASIL.
Durante três longos séculos, o Brasil
viveu a página negra da escravidão. É comum se atribuir esse acontecimento
lamentável ao fator econômico. Acreditam que só a necessidade de braços para a
lavoura foi a responsável pela vinda do negro africano para o Brasil.
Realmente, o braço cativo foi o propulsor da economia brasileira e também de
outros países. Mas, não podemos esquecer que a ação espiritual, mesmo
respeitando o livre arbítrio, está sempre presente em cada momento da nossa
existência.
O Espírito Humberto de Campos, no seu
livro, nos fala de um encontro de Ismael com o Divino Cordeiro, onde o nosso
querido mensageiro e protetor expõe a sua tristeza diante dos quadros de
sofrimento e dor presenciados na nova Terra. A civilização que ali se inicia,
com um objetivo tão grandioso, deixa-se contaminar por exemplos lamentáveis
apresentados em outras terras, e aderindo ao tráfico de escravos, faz-se ao mar
e vai buscar nas terras longínquas da Luanda, da Guiné e de Angola, negros
indefesos. Arranca-os da sua pátria, transporta-os como verdadeiros animais e,
aqui chegando, vende-os como "peças" contadas, tributadas, sem nenhum
respeito à sua condição humana. O Divino Mestre, então lhe responde
brandamente: " - Ismael, asserena teu mundo íntimo nos sagrados deveres
que te foram confiados. Bem sabes que os homens têm responsabilidade pelos seus
atos. (...) Não podemos tolher-lhes a liberdade, mas também não devem esquecer
que cada qual receberá de acordo com os seus atos. Havia eu determinado que a
Terra do Cruzeiro se povoasse de raças humildes do Planeta,
buscando-se a colaboração dos povos
sofredores das regiões africanas. (...) Para isso aproximei Portugal daquelas
raças sofredoras, sem violência de qualquer natureza.
A colaboração africana deveria, pois,
verificar-se sem abalos, sem sofrimentos, conforme as minhas amorosas
determinações. O homem branco da Europa, porém, desejando entregar-se ao prazer
fictício dos sentidos, procura eximir-se do trabalho pesado da agricultura,
(...). Eles terão a liberdade de humilhar os seus irmãos, em face do livre
arbítrio, (...) mas, os que praticarem o nefando comércio sofrerão também o
mesmo martírio. (Xavier, Francisco Cândido,
op. .cit pp. 50-51) Vemos aqui, que a
vinda do negro africano para o Brasil fazia parte dos planos traçados para a
nossa Terra, mas tudo deveria acontecer sem violência. A crueldade com que eles
foram arrancados da sua pátria e o tratamento monstruoso que aqui receberam,
sendo escravizados e torturados, foram consequência da ambição, do abuso do
poder e da alta de conhecimento de que somos todos filhos do mesmo Pai, logo
somos irmãos; somos iguais. Esses nossos irmãos africanos, vindos para o
Brasil, eram entidades sofredoras que, em outras existências, evoluíram apenas
pela ciência. Evoluíram só intelectualmente, mas eram pobres de humildade e de
amor. Através da Lei de Reencarnação, renasceram nas Terras da África e, de lá,
vieram para o árduo trabalho na Terra do Cruzeiro. Foram eles que abriram
caminhos na terra virgem, sustentando nos ombros feridos o peso de todos os
trabalhos, conquistando assim o sentimento de humildade e amor que lhes faltava.
Conforme Berni (1994), Emmanuel, em sua
cartilha "Pensamento e Vida", assim nos esclarece.: " - Já se
disse que duas asas conduziram o espírito dos humanos à presença de Deus. Uma
chama-se amor, a outra, Sabedoria. Através do amor, valorizamo-nos para a vida.
Através da sabedoria, somos pela vida valorizados. Daí o imperativo de
marcharem juntas a inteligência e a bondade".
Os filhos da África foram humilhados e
torturados na Terra que seria um dia a Pátria do Evangelho; mas com seu
sacrifício, e com as suas lágrimas (que também tinham uma razão, pois não se
paga sem dever), tornaram-se instrumentos do Mestre Jesus, na obra em prol do
Evangelho, pois, com o seu trabalho, constituíram-se num dos baluartes da
nacionalidade em todos os tempos e, enquanto isso, reabilitavam-se com a Lei
Divina que foi por eles um dia
infringida. Diz ainda o Mestre Jesus a
Ismael: " Infelizmente Portugal, que representa um agrupamento de
espíritos trabalhadores e dedicados (...) não soube receber as facilidades que
a misericórdia do Supremo Senhor do Universo lhe outorgou nestes últimos anos
(...).Na velha península já não existe o povo mais pobre e laborioso da Europa.
O luxo das conquistas lhe amoleceu as fibras criadoras (...) não nos é possível
cercear o livre arbítrio das almas, poderemos mudar o curso dos acontecimentos,
a fim de que o povo lusitano aprenda, na dor e na miséria, as lições sagradas
da experiência e da vida. (Xavier, Francisco Cândido,1996, p 52 -
53) Na formação da Pátria do Evangelho,
o homem branco, com sua independência e sua ambição, alterou os fatores; no
entanto, Jesus alterou os acontecimentos. É a História que nos conta o que
aconteceu mais adiante. Os donatários sofreram os mais tristes reveses no solo
brasileiro: Os índios Tupinambás e Tupiniquins (...) que, com expressões de
fraternidade, receberam Cabral quando aqui aportou pela primeira vez, reagiram
contra os colonizadores e
travaram-se lutas cruentas.
A luxuosa expedição de João de Barros
que saiu de Lisboa com intenção de conquistar o ouro dos Incas, dispersou-se no
mar, sofrendo os seus componentes infinitos martírios. Os tesouros das Índias
levam o povo português à decadência e à miséria.
A Casa de Avis, sob cujo reinado se
iniciou o tráfico hediondo dos homens livres, desaparece para sempre e por fim,
Portugal entrega-se ao domínio Espanhol. (Xavier, Francisco Cândido, 1996 p.53
- 54). Estas informações nos levam a supor que nada disso teria acontecido se
os colonizadores tivessem agido de modo diferente. Ninguém foge à Lei de Causa
e Efeito.
Apesar de tão doloroso capítulo na nossa
história, a escravidão obedeceu rigorosamente ao critério da Lei de Causa e
Efeito. Há, porém, um ponto a observar: mesmo sendo uma página triste e
vergonhosa na nossa história, é forçoso reconhecer que a escravidão no Brasil
não trouxe aos negros apenas sofrimentos. Tiveram um final feliz. A vida dos
negros regulariza-se, a saúde se refaz trazendo-lhes a alegria de viver e
muitos deles são gratos aos novos
senhores, que eram melhores que os da
África e os do mar. Em Berna, Duílio
Lena, na obra "Brasil, Mais Além", encontramos: "Não é nosso
intento fazer apologia da escravidão, cujos terrores principalmente macularam o
homem branco e sobre ele recaíram. Mas a escravidão no Brasil foi para os
negros a reabilitação deles próprios e trouxe para a descendência deles
uma pátria, a paz e a liberdade e outros
bens que pais e filhos jamais lograriam gozar, ou sequer entrever no seio
bárbaro da África". (op. cit. p. 108) "Na Pátria do Evangelho, têm
eles sido estadistas, médicos, artistas, poetas e escritores (...) em nenhuma
outra parte do planeta alcançaram ainda a elevada e justa posição que lhes
compete, como acontece no Brasil." (op. cit. p. 117). Foi com essa tarefa
expiatória, sofrendo os mais extraordinários sacrifícios,
que cumpriram o seu resgate. E mais
tarde, no Quilombo dos Palmares, deram-nos
o exemplo de resistência e perseverança,
onde por mais de setenta anos
lutaram
com heroísmo, defendendo o território por eles conquistado.
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