quarta-feira, 15 de outubro de 2014

Brasil coração do mundo pátria do evangelho

Boa tarde amigos! No dia 10 de junho de 2014, iniciamos o estudo do tema Brasil coração do mundo pátria do evangelho com os nossos grupos de estudo. Próximo ao início da copa do mundo do Brasil, estimulados pela euforia que havia fomos estimulados a estudar o tema, muito bem abordado por Humberto de Campos no livro psicografado por nosso venerando Chico Xavier. Segue um trabalho efetuado por uma companheira da Federação espírita da Paraíba, em que pegamos os principais pontos para discussão com os grupos.


A MISSÃO DO BRASIL COMO PÁTRIA DO EVANGELHO  por Célia Urquiza de Sá


CAPÍTULO I - BRASIL, CORAÇÃO DO MUNDO, PATRIA DO EVANGELHO. 


O Espírito Humberto de Campos, no seu livro psicografado por Chico Xavier e que tem como título estas palavras: "Brasil, Coração do Mundo, Pátria do Evangelho", nos afirma que Jesus transportou a árvore do Evangelho, da Palestina para o Brasil. Por que Jesus fez isso? Terá sido privilégio nosso? O que  fizemos para merecê-lo? Se não foi privilégio, o que aconteceu, para que essa  árvore plantada inicialmente na Palestina, não permanecesse lá, e viesse para cá? Esta afirmação do autor espiritual, nos leva a uma série de indagações. Façamos  um estudo sobre elas. É possível que as respostas surjam no decorrer do mesmo. 

Todos nós sabemos que Jesus é o Espírito a quem foram confiados os destinos do nosso Planeta. É aquele que foi por Deus enviado, com a missão de ser o Pastor das ovelhas aqui existentes; e como Pastor desse rebanho, Ele nos conduz, cuidando para que nenhuma se perca. Foi para isso, então, que Ele veio um dia à Terra, assumiu um corpo semelhante ao nosso; conviveu conosco, tornando-se visível e tangível. A sua vinda foi em cumprimento à sua missão. Veio nos apontar o caminho que devemos trilhar, para que um dia, ao devolver esse rebanho ao Pai, Ele possa dizer que das ovelhas que lhe foram confiadas, nenhuma se perdeu.

Inicialmente, foi à Palestina, a Terra escolhida para espalhar a semente do seu Evangelho. Mas, grande número dos que ali habitavam, estavam dominados pelo orgulho, pela ambição, pela sede de poder e grandezas, a ponto de não o aceitarem como o Messias Prometido, só por não ter nascido no seio da nobreza. Ele se apresentou ao Mundo, como filho de um humilde carpinteiro. Ali, as suas lições tiveram pouco eco. Poucos o ouviram e poucos O seguiram. Então, Ele escolheu outra Terra, para novamente semear o Seu Evangelho. Não havendo eco na Palestina, Jesus escolheu o Brasil para porta-voz das Suas lições. 

Fomos nós os escolhidos, mas, não por privilégio. Por missão. Foi-nos confiada à tarefa de aprender, vivenciar, e espalhar os seus ensinamentos. Então se repetiu no Brasil, o que aconteceu na Palestina, quando se aproximou o momento da Sua vinda. Houve naquela ocasião, todo um preparo, para o bom êxito do Seu nascimento, da Sua permanência ali, naquela época. Uma série de cuidados foi tomada. Uma grande equipe espiritual, justamente aquela que mais diretamente executa as Suas ordens, cuidou para que tudo acontecesse na forma mais perfeita. Sob a inspiração dos espíritos superiores, os profetas anunciaram; os precursores prepararam os caminhos e tudo foi cuidadosamente planejado e executado. No Brasil, aconteceu o mesmo. Verificando o nosso Mestre que havia chegado a época para transplantar a sua árvore, tendo já escolhido a Terra que iria recebê-la, mais uma vez uma grande equipe espiritual foi convocada. Não se tem conhecimento, mas, é possível que tenha sido a mesma que tudo fez na Palestina; e tomou todos os cuidados para que novamente, tudo saísse a contento. Essa equipe cuidou da nossa Terra a partir da forma geográfica, semelhante a um coração; cuidou também da sua estrutura. Aqui, não temos as grandes catástrofes, tais como: terremotos, vulcões, maremotos, furacões, ciclones. Isso foi privilégio nosso? Não, pois Deus não privilegia ninguém. Em nenhum ponto merecemos mais que os nossos irmãos de outras Terras que sofrem essas calamidades. Tudo isso foi porque esta Terra se transformaria mais tarde na Pátria do Evangelho e como tal, faziam-se necessários todos esses cuidados, para que o seu povo, não estando às voltas com as grandes catástrofes, pudesse se dedicar mais à árvore que para cá seria transportada. Cuidou também da formação do nosso povo. Não viemos de um povo orgulhoso, prepotente, elitizado. Somos o resultado da união de três raças sofridas. Somos a miscigenação do branco injustiçado, muitos dos portugueses que para cá vieram, banidos do seu país, eram inocentes, não mereciam aquela punição; do negro escravizado e do índio, ser em primário estágio evolutivo. Somos o resultado da união dessas três raças e de cada uma delas temos características. Do branco injustiçado temos a inquietação diante da injustiça; do negro escravizado temos a submissão, a aceitação da dor, do sofrimento; e do índio temos a indomabilidade. Por que tudo isso? A resposta é muito simples. Porque nada ensina mais a amar e a perdoar, do que a dor e o sofrimento. Também porque, só nascendo dessa simplicidade é que o povo brasileiro poderia ser o que é: sentimental, solidário, amigo, como nenhum outro no mundo. Na Palestina, Jesus iniciou, a Sua vida pública, com o "Sermão da Montanha", dizendo: "Bem-aventurados os que choram, porque serão consolados; (...) Bem-aventurados os que têm fome e sede de justiça, porque serão saciados; (...) Bem-aventurados os puros de coração, por que verão a Deus".

O branco inocente, banido injustamente do seu país, e o negro arrancado à força do seu berço, representam os que choram e os que têm fome e sede de justiça; o índio representa os puros de coração. Somos o resultado da união dos injustiçados, dos que choram e dos puros de coração. No Brasil, Jesus nos apresentou também o "Sermão da Montanha", o Seu grandioso e mais belo sermão através da formação do nosso povo, mostrando dessa forma que estava, realmente, replantando a árvore do Seu Evangelho. Humberto de Campos no seu livro nos faz um relato do nascimento do Brasil. Não um relato histórico. Ele apresenta o aspecto espiritual desse fato. Ele fala das providências tomadas, desde muito antes da viagem de Cabral e, à medida que mostra o trabalho e o cuidado dos Espíritos que acompanharam e participaram de cada episódio, nos esclarece também sobre a missão evangélica do Brasil. O seu relato é muito cheio de beleza e poesia. Em muitas ocasiões, ele nos mostra o diálogo de Jesus, no mundo espiritual, com os Seus mensageiros, à medida que vai traçando planos e tomando decisões, quanto ao nosso destino de filhos da Pátria do Evangelho. Logo no início, ele nos conta que Jesus, numa das suas visitas espirituais a este Planeta, encaminhou-se ao continente que seria mais tarde o mundo americano, e quando contemplou as maravilhas dessa terra onde resplandece o cruzeiro do sul, e que seria o Brasil, erguendo as mãos para o Alto, invoca a bênção do Pai, e dirigindo-se a um dos Seus mensageiros, exclama: - Para esta terra maravilhosa e bendita, será transplantada a árvore do Meu Evangelho de piedade e de amor, (...) e Tu Helil, te corporificarás na Terra, no seio do povo mais pobre e mais trabalhador do Ocidente; instituirás um roteiro de coragem, para que sejam transpostas as imensidades desses oceanos perigosos e solitários, que separam o Velho do Novo Mundo (...)

“Aqui, Helil, sob a luz misericordiosa das estrelas da cruz, ficará localizado o coração do mundo”. Algum tempo depois, no ano de 1 394, como filho de D. João I e D. Filipa de Lencastre, reencarna em solo português, Helil, que ficará conhecido na História Universal como o heroico Infante de Sagres; aquele que foi o grande responsável pelos descobrimentos portugueses. Quando o Rei D. João I subiu ao trono, Portugal estava numa situação econômica desesperadora. Todo o poder econômico estava de posse da Igreja e o Rei não podia desenvolver o País. Então, para de alguma forma alterar a situação, sem entrar em conflito com o poder religioso, nomeou os seus filhos, responsáveis por cada Ordem Religiosa, e foi assim, que o Infante D. Henrique foi nomeado o Grão Mestre da Ordem de Cristo. Essa Ordem era secular e muito rica, tanto em dinheiro, como em informações históricas, e isso levou o Infante de Sagres a tomar conhecimento de antigos manuscritos, ali guardados, que falavam de outros povos e as rotas dos povos antigos. 

Os recursos ali existentes, que não eram poucos, pois era uma das Ordens mais ricas do País, o Infante utilizou na construção de navios, na contratação de astrônomos, matemáticos, engenheiros navais e outros homens de saber, para dar início ao seu grande sonho que era como ele próprio dizia: "levar o mundo a navegar por mares nunca dantes navegados". Hoje, sabemos ter sido esta a sua missão Foi dessa forma que se iniciaram os descobrimentos. Foi assim que o nosso Helil, o nosso Infante de Sagres cumpriu a sua missão. "Os descobrimentos brotaram da sua vontade, quando os contemporâneos o remordiam de censuras por este afinco nas pesquisas do Atlântico. Triunfou. E se Portugal varou de pasmo a Europa, ganhando as honras de nação benemérita dos povos modernos, os primeiros e os mais decisivos impulsos eram do Infante Dom Henrique". (Bérni, p. 60) Humberto de Campos na sua obra, informa que o Infante D. Henrique, por várias vezes deixou transparecer que tinha a certeza da existência de terras, ainda desconhecidas. Era como se ele fosse às vezes, assaltado por lembranças que lhe davam essa segurança.

Hoje sabemos que essas lembranças vinham do fato dele já ter estado aqui, antes deste seu reencarne, e foi na nossa Terra, ainda desconhecida, que ele recebeu do Mestre a missão que soube tão bem desempenhar. Uma prova disso é que um mapa traçado em 1448, por André de Bianco, mencionava uma região fronteira à África. Não era, portanto, desconhecida dos navegadores portugueses a existência dessas terras.

Desencarnando em 1460, D. Henrique de Sagres volta à Pátria Espiritual e, no além, o mensageiro do Mestre continua a trabalhar na causa do Evangelho. Por inspiração sua, diversas expedições são organizadas, e sob a sua influência é descoberta a Costa de Angola; mais tarde, Vasco da Gama descobre o caminho marítimo das Índias, e algum tempo depois, Gaspar de Corte Real descobre o Canadá. Todos os navegadores saem de Lisboa com instruções secretas quanto à terra desconhecida. 

Percebe-se  claramente a preocupação do autor espiritual em nos chamar a atenção para vários pontos importantes. São eles: Os planejamentos da Espiritualidade Superior; O infante D. Henrique, encarnação do Espírito Helil, foi um emissário de Jesus. Como Espírito de elevada hierarquia, permaneceu adstrito ao cumprimento da tarefa que lhe fora atribuída. D.Henrique, instituiu um roteiro de coragem, para que fossem transpostas as imensidades perigosas e solitárias que separavam os dois mundos Por predestinação de Jesus, o nosso Brasil é o Coração do Mundo e Pátria do Evangelho, com a árdua, mas nobre tarefa de espalhar, principalmente com o exemplo, a mensagem do Cristo. (Bérni, op. cit. p 68) que: A preocupação do autor espiritual era nos mostrar que nada aconteceu por acaso. Tudo foi fruto de um cuidadoso planejamento; o Infante D. Henrique, encarnação do espírito Helil, foi um emissário de Jesus, como também não deixa nenhuma dúvida quanto à sua missão; a sua afirmação de que Helil é um Espírito de elevada hierarquia, é a confirmação do que foi dito por Zurara, navegador e historiador português, quando em uma de suas crônicas, retrata o Infante de Sagres como "um homem de extraordinárias virtudes. Nunca foi avarento, nem era dado ao luxo. Usava gestos calmos e palavras suaves. Sempre foi muito dedicado ao trabalho. Não era rude, mas sabia manter a disciplina. Absteve-se de álcool desde a mocidade". 

Ainda temos: "O terceiro filho de Dom João 1 e de Dona Filipa (...) poderia viajar de Corte para Corte como o irmão Dom Pedro, mas recusou todas as ofertas da Inglaterra, da Itália e da Alemanha, e escolheu a vida de um estudioso e de um homem de mar, retirando-se cada vez mais do mundo conhecido para descobrir o desconhecido". (Beazley, 1945, p. 135).

Era como se ele estivesse a todo o momento dizendo ao mundo que sabia qual a sua missão e tinha pressa em cumpri-la. Ao escolher o Brasil para transplantar a árvore do Evangelho, Jesus nos deu a missão de transmitir ao mundo a Sua mensagem; mas com a Sua conduta, vivenciando tudo aquilo que ensinava, mostrou também como Ele deseja que essa missão seja cumprida: com o exemplo.



CAPÍTULO II - DESCOBRIMENTO DA TERRA DE VERA CRUZ


No dia 9 de março de 1500, partindo do rio Tejo, fez-se ao mar a grande esquadra de Cabral, com destino às Índias. A frota era constituída de treze navios, algumas caravelas e duas embarcações, conduzindo a bordo cerca de 1 .200 participantes. Já em alto mar, Cabral pensa no seu desejo de alcançar a terra desconhecida do hemisfério sul, criando assim a sintonia necessária com os planos do mundo invisível. Henrique de Sagres aproveita essa oportunidade, e, sob a sua influência, as noites de Cabral são repletas de sonhos reveladores e,

sob o impulso de uma orientação imperceptível, as caravelas abandonam o caminho das Índias.

Há em todos uma angustiosa expectativa, mas a assistência espiritual lhes traz ânimo e esperança. Algum tempo depois, notam-se nas ondas folhas, flores e perfumes. Eram os primeiros sinais de terra próxima. Horas depois, Cabral e sua gente são recebidos como irmãos, na praia extensa e acolhedora, pelos habitantes dessa Terra. Estava descoberta a Terra que seria um dia o Coração do Mundo, Pátria do Evangelho.

Continuando o seu relato, o espírito Humberto de Campos nos fala de acontecimentos completamente ignorados pela história humana. Conta-nos que, enquanto Cabral adentrava à terra descoberta, conhecendo a sua gente, as suas riquezas, no Mundo espiritual reinava uma alegria intensa em todos aqueles que participaram do advento da Pátria do Evangelho.

Dias após, o Mestre Jesus fazendo-se presente à uma das assembleias espirituais, dirigindo-se a outro dos Seus elevados mensageiros, falou com doçura: - "Ismael, doravante sejas o zelador dos patrimônios imortais que constituem a Terra do Cruzeiro. Recebe-a nos teus braços de trabalhador devotado da minha seara, como a recebi no coração, obedecendo a sagradas inspirações do Nosso Pai (...) Para aí transplantei a árvore da minha misericórdia e espero que a cultives com a tua abnegação e com o teu sublimado heroísmo..."

(Xavier Francisco Cândido, op. cit.1996) Ismael é um nome bastante conhecido no mundo espírita. Ele é o Guia Espiritual do Brasil, e conforme afirma Humberto de Campos, essa missão ele a recebeu diretamente de Jesus. O seu lema é: "DEUS,CRISTO E CARIDADE".

Conta ainda o autor espiritual que, nesse mesmo instante, a frota de Cabral abandona as águas da Baía de Porto Seguro, continuando a sua viagem, e na praia, choram desesperadamente, dois dos vinte párias sociais condenados ao exílio. Enquanto os homens do mar se afastavam levando amostras das riquezas encontradas na nova terra, os dois infelizes se lastimavam sem consolo e sem esperança. De repente, um dos condenados avança para uma frágil embarcação

indígena, que nenhuma proteção oferecia, e se faz ao mar. "Seus olhos inchados do pranto, contemplam as duas imensidades, a do céu e a do mar, e esperando na morte o socorro bondoso, exclama: -"Jesus, tende piedade! Sou inocente, Senhor, e padeço a tirania da injustiça dos homens. Enviai a morte ao meu espírito." ( Xavier, Francisco Cândido, op. cit. 1996, p 39) Nesse instante, sente que uma luz estranha lhe nasce no íntimo,e uma esperança se apossa de sua alma, e como por milagre, a frágil e rústica embarcação, que sob o seu impulso, momentos antes, navegava rumo ao infinito, inesperadamente passa a navegar

em sentido contrário, regressando celeremente à praia distante. O furor das ondas não foi suficiente para arrebatá-la. Uma força misteriosa a conduz em segurança à terra firme. Afirma-nos o autor espiritual que, salvando esse nosso irmão infeliz, desesperado, buscando a morte, Ismael realiza o seu primeiro trabalho nas Terras do Cruzeiro, em favor daqueles que acabara de receber sob a sua proteção. Esses nossos irmãos, que para cá vieram banidos injustamente do seu país, eram inocentes naquela existência.

Porém, por culpas do passado mereciam o castigo que receberam. Se eles cumpriram o seu resgate, vivendo as experiências da humilhação, da dificuldade, da opressão e da dor, com  certeza foi porque foi nesse ponto que eles infringiram a Lei Divina. É a Lei do Retorno, a Lei de Causa e Efeito. É o conhecimento dos atributos divinos que nos dá esta certeza. Deus é a justiça Infinita, e nessa condição, toda ofensa à Sua Lei é merecedora de resgate.

 

Capítulo III - A ESCRAVIDÃO NO BRASIL.


Durante três longos séculos, o Brasil viveu a página negra da escravidão. É comum se atribuir esse acontecimento lamentável ao fator econômico. Acreditam que só a necessidade de braços para a lavoura foi a responsável pela vinda do negro africano para o Brasil. Realmente, o braço cativo foi o propulsor da economia brasileira e também de outros países. Mas, não podemos esquecer que a ação espiritual, mesmo respeitando o livre arbítrio, está sempre presente em cada momento da nossa existência.

O Espírito Humberto de Campos, no seu livro, nos fala de um encontro de Ismael com o Divino Cordeiro, onde o nosso querido mensageiro e protetor expõe a sua tristeza diante dos quadros de sofrimento e dor presenciados na nova Terra. A civilização que ali se inicia, com um objetivo tão grandioso, deixa-se contaminar por exemplos lamentáveis apresentados em outras terras, e aderindo ao tráfico de escravos, faz-se ao mar e vai buscar nas terras longínquas da Luanda, da Guiné e de Angola, negros indefesos. Arranca-os da sua pátria, transporta-os como verdadeiros animais e, aqui chegando, vende-os como "peças" contadas, tributadas, sem nenhum respeito à sua condição humana. O Divino Mestre, então lhe responde brandamente: " - Ismael, asserena teu mundo íntimo nos sagrados deveres que te foram confiados. Bem sabes que os homens têm responsabilidade pelos seus atos. (...) Não podemos tolher-lhes a liberdade, mas também não devem esquecer que cada qual receberá de acordo com os seus atos. Havia eu determinado que a Terra do Cruzeiro se povoasse de raças humildes do Planeta,

buscando-se a colaboração dos povos sofredores das regiões africanas. (...) Para isso aproximei Portugal daquelas raças sofredoras, sem violência de qualquer natureza.

A colaboração africana deveria, pois, verificar-se sem abalos, sem sofrimentos, conforme as minhas amorosas determinações. O homem branco da Europa, porém, desejando entregar-se ao prazer fictício dos sentidos, procura eximir-se do trabalho pesado da agricultura, (...). Eles terão a liberdade de humilhar os seus irmãos, em face do livre arbítrio, (...) mas, os que praticarem o nefando comércio sofrerão também o mesmo martírio. (Xavier, Francisco Cândido,

op. .cit pp. 50-51) Vemos aqui, que a vinda do negro africano para o Brasil fazia parte dos planos traçados para a nossa Terra, mas tudo deveria acontecer sem violência. A crueldade com que eles foram arrancados da sua pátria e o tratamento monstruoso que aqui receberam, sendo escravizados e torturados, foram consequência da ambição, do abuso do poder e da alta de conhecimento de que somos todos filhos do mesmo Pai, logo somos irmãos; somos iguais. Esses nossos irmãos africanos, vindos para o Brasil, eram entidades sofredoras que, em outras existências, evoluíram apenas pela ciência. Evoluíram só intelectualmente, mas eram pobres de humildade e de amor. Através da Lei de Reencarnação, renasceram nas Terras da África e, de lá, vieram para o árduo trabalho na Terra do Cruzeiro. Foram eles que abriram caminhos na terra virgem, sustentando nos ombros feridos o peso de todos os trabalhos, conquistando assim o sentimento de humildade e amor que lhes faltava.

Conforme Berni (1994), Emmanuel, em sua cartilha "Pensamento e Vida", assim nos esclarece.: " - Já se disse que duas asas conduziram o espírito dos humanos à presença de Deus. Uma chama-se amor, a outra, Sabedoria. Através do amor, valorizamo-nos para a vida. Através da sabedoria, somos pela vida valorizados. Daí o imperativo de marcharem juntas a inteligência e a bondade".

Os filhos da África foram humilhados e torturados na Terra que seria um dia a Pátria do Evangelho; mas com seu sacrifício, e com as suas lágrimas (que também tinham uma razão, pois não se paga sem dever), tornaram-se instrumentos do Mestre Jesus, na obra em prol do Evangelho, pois, com o seu trabalho, constituíram-se num dos baluartes da nacionalidade em todos os tempos e, enquanto isso, reabilitavam-se com a Lei Divina que foi por eles um dia

infringida. Diz ainda o Mestre Jesus a Ismael: " Infelizmente Portugal, que representa um agrupamento de espíritos trabalhadores e dedicados (...) não soube receber as facilidades que a misericórdia do Supremo Senhor do Universo lhe outorgou nestes últimos anos (...).Na velha península já não existe o povo mais pobre e laborioso da Europa. O luxo das conquistas lhe amoleceu as fibras criadoras (...) não nos é possível cercear o livre arbítrio das almas, poderemos mudar o curso dos acontecimentos, a fim de que o povo lusitano aprenda, na dor e na miséria, as lições sagradas da experiência e da vida. (Xavier, Francisco Cândido,1996, p 52 -

53) Na formação da Pátria do Evangelho, o homem branco, com sua independência e sua ambição, alterou os fatores; no entanto, Jesus alterou os acontecimentos. É a História que nos conta o que aconteceu mais adiante. Os donatários sofreram os mais tristes reveses no solo brasileiro: Os índios Tupinambás e Tupiniquins (...) que, com expressões de fraternidade, receberam Cabral quando aqui aportou pela primeira vez, reagiram contra os colonizadores e

travaram-se lutas cruentas.

A luxuosa expedição de João de Barros que saiu de Lisboa com intenção de conquistar o ouro dos Incas, dispersou-se no mar, sofrendo os seus componentes infinitos martírios. Os tesouros das Índias levam o povo português à decadência e à miséria.

A Casa de Avis, sob cujo reinado se iniciou o tráfico hediondo dos homens livres, desaparece para sempre e por fim, Portugal entrega-se ao domínio Espanhol. (Xavier, Francisco Cândido, 1996 p.53 - 54). Estas informações nos levam a supor que nada disso teria acontecido se os colonizadores tivessem agido de modo diferente. Ninguém foge à Lei de Causa e Efeito.

Apesar de tão doloroso capítulo na nossa história, a escravidão obedeceu rigorosamente ao critério da Lei de Causa e Efeito. Há, porém, um ponto a observar: mesmo sendo uma página triste e vergonhosa na nossa história, é forçoso reconhecer que a escravidão no Brasil não trouxe aos negros apenas sofrimentos. Tiveram um final feliz. A vida dos negros regulariza-se, a saúde se refaz trazendo-lhes a alegria de viver e muitos deles são gratos aos novos

senhores, que eram melhores que os da África e os do mar.  Em Berna, Duílio Lena, na obra "Brasil, Mais Além", encontramos: "Não é nosso intento fazer apologia da escravidão, cujos terrores principalmente macularam o homem branco e sobre ele recaíram. Mas a escravidão no Brasil foi para os negros a reabilitação deles próprios e trouxe para a descendência deles

uma pátria, a paz e a liberdade e outros bens que pais e filhos jamais lograriam gozar, ou sequer entrever no seio bárbaro da África". (op. cit. p. 108) "Na Pátria do Evangelho, têm eles sido estadistas, médicos, artistas, poetas e escritores (...) em nenhuma outra parte do planeta alcançaram ainda a elevada e justa posição que lhes compete, como acontece no Brasil." (op. cit. p. 117). Foi com essa tarefa expiatória, sofrendo os mais extraordinários sacrifícios,

que cumpriram o seu resgate. E mais tarde, no Quilombo dos Palmares, deram-nos

o exemplo de resistência e perseverança, onde por mais de setenta anos

lutaram com heroísmo, defendendo o território por eles conquistado.

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