A Providência é a solicitude de Deus para com as suas criaturas. É a suprema sabedoria com que o Criador conduz todas
as coisas, é o cuidado constante, o zelo ininterrupto, [...] é o espírito superior, é o anjo velando sobre o infortúnio,
é o consolador invisível, [...] é o farol aceso no meio da noite, para a salvação dos
que erram sobre o mar tempestuoso da vida. A Providência é, ainda, principalmente,
o amor divino derramando-se a flux sobre
suas criaturas.
Deus [...] está em toda parte, tudo vê, a tudo
preside, mesmo às coisas mais mínimas. É nisto que consiste a ação providencial. Como pode
Deus, tão grande,tão poderoso, tão superior a tudo, imiscuir-se em pormenores
ínfimos, preocupar-se com os menores
atos e os menores pensamentos de cada indivíduo? Esta a interrogação que a si mesmo
dirige o incrédulo, concluindo por dizer que, admitida a existência de Deus, só se pode
admitir, quanto à sua ação, que ela se exerça sobre as leis gerais do Universo; que este funcione de toda a eternidade em virtude
dessas leis, às quais toda criatura se acha submetida na esfera de suas atividades, sem que haja
mister a intervenção incessante da Providência.
Achamo-nos então, constantemente, em presença da Divindade; nenhuma das
nossas ações lhe podemos subtrair ao olhar; o nosso pensamento está em contato
ininterrupto com o seu pensamento, havendo, pois, razão para dizer-se que Deus
vê os mais profundos refolhos do nosso coração. Estamos nele, como ele está em nós,
segundo a palavra do Cristo. Para estender a sua solicitude a todas as
criaturas, não precisa Deus lançar o olhar do Alto da imensidade.
As nossas preces, para que ele as ouça, não precisam transpor o espaço,
nem ser ditas com voz retumbante, pois que, estando de contínuo ao nosso lado,
os nossos pensamentos repercutem nele.
Os nossos pensamentos são como os sons de um sino, que fazem vibrar todas
as moléculas do ar ambiente.
Nada obsta a que se admita, para o princípio da soberana inteligência,
um centro de ação, um foco principal a irradiar incessantemente, inundando o
Universo com seus eflúvios, como o Sol com a sua luz. Mas onde esse foco? É o
que ninguém pode dizer.
Provavelmente, não se acha fixado em determinado ponto, como não o está
a sua ação, sendo também provável que percorra constantemente as regiões do
espaço sem fim. Se simples Espíritos têm o dom da ubiqüidade, em Deus há de ser
sem limites essa faculdade. Enchendo Deus o Universo, poder-se-ia ainda admitir,
a título de hipótese, que esse foco não precisa transportar-se, por se formar
em todas as partes onde a soberana vontade julga conveniente que ele se
produza, donde o poder dizer-se que está em toda parte e em parte nenhuma.
A ação providencial de Deus pode ser percebida nas seguintes palavras de
Emmanuel:
Se acreditas que o hálito das entidades angélicas bafeja exclusivamente
os
cultivadores da virtude, medita na Providência Divina que honra o Sol,
na grandeza
do Espaço, mas induzindo-o a sustentar os seres que ainda jazem colados
à crosta do
Planeta, inclusive os últimos vermes que rastejam no chão.
Contempla os quadros que te circundam, em todas as direções, e
reconhecerás o Amor Infinito buscando suprimir, em silêncio, as situações
deprimentes da natureza.
Cachoeiras cobrem abismos.
Fontes alimentam a terra seca.
Astros clareiam o céu noturno.
Flores valorizam espinheirais.
No campo de pensamento em que estagias, surpreenderás esse mesmo
Infinito
Amor, procurando extinguir as condições inferiores da Humanidade.
Pais transfigurados em gênios de ternura.
Professores desfazendo as sombras da ignorância.
Médicos a sanarem doenças.
Almas generosas socorrendo a necessidade.
Entendemos, assim, que Deus se
ocupa com todos os seres que criou, por mais pequeninos que sejam. Nada, para a
sua bondade, é destituído de valor.
Devemos, entretanto, considerar que, a despeito da ação providencial de
Deus para com todas as suas criaturas, estamos vinculados aos resultados
do
nosso livre-arbítrio. Dessa forma, todas [...] nossas ações estão submetidas às leis
de Deus. Nenhuma há, por mais insignificante que nos pareça, que não
possa ser
uma violação daquelas leis. Se sofremos as conseqüências dessa violação,
só nos devemos queixar de nós mesmos, que desse modo nos fazemos os causadores
da nossa felicidade, ou da nossa infelicidade futuras.
Fica claro, portanto, que a Providência Divina se manifesta duplamente:
sob a forma de misericórdia e de justiça, porque a [...] compaixão, filha do Amor,
desejará estender sempre o braço que salva, mas a justiça, filha da Lei,
não prescinde
da ação que retifica. Haverá recursos da misericórdia para as situações
mais deploráveis. Entretanto, a ordem legal do Universo cumprir-se-á,
invariavelmente. Em
virtude, pois, da realidade, é justo que cada filho de Deus assuma
responsabilidades
e tome resoluções por si mesmo.
As provações da vida representam, assim, os cuidados de Deus para com todos
os seus filhos, oferecendo-lhes benditas oportunidades de progresso espiritual,
como nos esclarece o benfeitor Emmanuel:
Em todas as provas que te assaltem os dias, considera a quota das bênçãos
que
te rodeiam, e, escorando-te na fé e na paciência, reconhecerás que a
Divina Providência está agindo contigo e por teu intermédio, sustentando-te, em
meio dos problemas que te marcam a estrada, para doar-lhes a solução.
Diante desses problemas insondáveis, cumpre que a nossa razão se
humilhe.
Deus existe: disso não poderemos duvidar. É infinitamente justo e bom:
essa a sua
essência. A tudo se estende a sua solicitude: compreendemo-lo. Só o
nosso bem, portanto, pode ele querer, donde se segue que devemos confiar nele:
é o essencial. Quanto ao mais, esperemos que nos tenhamos tornado dignos de o
compreender.
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