O vocábulo adoração significa,
segundo o Dicionário Houaiss da Língua Portuguesa, ato ou
efeito de adorar, que está intimamente relacionado à palavra veneração, culto
que se rende a alguém ou algo considerado divindade. No sentido vulgar do
termo, adorar traduz-se como prestar culto à divindade. Todavia,
afirmam os Espíritos Superiores que adoração consiste na
[...] elevação do pensamento a Deus.
Deste, pela adoração,
aproxima o homem sua alma. Esclarecem também que a [...] adoração
está na lei natural, pois resulta de um sentimento inato no homem. Por essa
razão é que existe entre todos os povos, se bem que sob formas diferentes.
Tempos houve em que cada
família, cada tribo, cada cidade e cada raça tinha os seus deuses particulares,
em cujo louvor o fogo divino ardia constantemente na lareira ou nos altares dos
templos que lhes eram dedicados. Retribuindo essas homenagens (assim se
acreditava), os deuses tudo faziam pelos seus adoradores, chegando até a se
postar à frente dos exércitos das comunas ou das nações a que pertenciam,
ajudando-as em guerras defensivas ou de conquista.
É importante destacar que a
[...] palavra deus tinha, entre os antigos, acepção muito ampla. Não
indicava, como presentemente, uma personificação do Senhor da Natureza. Era uma
qualificação genérica, que se dava a todo ser existente fora das condições da Humanidade.
Ora, tendo-lhes as manifestações espíritas revelado a existência de seres
incorpóreos a atuarem como potência da Natureza, a esses seres deram eles o
nome de deuses, como lhes damos atualmente o de Espíritos.
Pura questão de palavras,
com a única diferença de que, na ignorância em
que se achavam, mantida intencionalmente
pelos que nisso tinham interesse, eles erigiram templos e altares muito
lucrativos a tais deuses, ao passo que hoje os consideramos simples criaturas
como nós, mais ou menos perfeitas e despidas de seus invólucros terrestres. Se
estudarmos atentamente os diversos atributos das divindades pagãs,
reconheceremos, sem esforço, todos os de que vemos dotados os Espíritos nos
diferentes graus da escala espírita, o estado físico em que se encontram nos
mundos superiores, todas as propriedades do períspirito e os papéis que
desempenham nas coisas da Terra.
Para entendermos a adoração,
precisamos reconhecer que esta acompanha o processo evolutivo da criatura
humana, uma vez que, como o homem evolui intelectual e moralmente, aperfeiçoa
também sua concepção de Deus e a sua forma de adorá-lo. Podemos, então,
acompanhar com nitidez a transformação
histórica da ideia de Deus
ocorrida na nossa humanidade: partindo das primitivas ideias politeístas,
alcançamos significativo progresso religioso com o
monoteísmo, a despeito de
ainda presos às manifestações de culto exterior. Nesse ponto da história
religiosa do Planeta, a nossa rota evolutiva abre-se em uma bifurcação,
estabelecida pelo surgimento do Cristianismo. Assim, os povos do hemisfério
ocidental abraçam as ideias cristãs, enquanto os povos do hemisfério oriental
se mantêm presos às tradições religiosas do seu passado remoto. É oportuno assinalar
que vindo [...] iluminar o mundo com a sua divina luz, o Cristianismo não se
propôs destruir uma coisa que está na Natureza.
Orientou, porém, a adoração
para Aquele a quem é devida. Quanto aos Espíritos,
a lembrança deles se há
perpetuado, conforme os povos, sob diversos nomes, e suas manifestações, que
nunca deixaram de produzir-se, foram interpretadas de maneiras diferentes e
muitas vezes exploradas sob o prestígio do mistério. Enquanto para a religião
essas manifestações eram fenômenos miraculosos, para os incrédulos sempre foram
embustes. Hoje, mercê de um estudo mais sério, feito à luz meridiana, o
Espiritismo, escoimado das ideias supersticiosas que o ensombraram durante
séculos, nos revela um dos maiores e mais sublimes princípios da Natureza.
Devemos considerar, no
entanto, que longe ainda nos encontramos de adorar Deus em espírito e verdade,
conforme preconiza o Espiritismo, e lembrando a mensagem cristã. Muitas
interpretações religiosas ainda trazem o ranço das manifestações ritualísticas,
visíveis nos seus cerimoniais de culto externo.
Emmanuel, a propósito,
lembra-nos que nos [...] tempos primevos, como na atualidade, o homem teve uma
concepção antropomórfica de Deus. Nos períodos primários da Civilização, como
preponderavam as leis de força bruta e a Humanidade era uma aglomeração de
seres que nasciam da brutalidade e da aspereza, que apenas conheciam os
instintos nas suas manifestações, a adoração aos seres invisíveis que
personificavam os seus deuses era feita de sacrifícios inadmissíveis em vossa
época.
Hodiernamente, nos vossos
tempos de egoísmo utilitário, Deus é considerado
como poderoso magnata, a
quem se pode peitar com bajulação e promessa, no seio de muitas doutrinas
religiosas.
Os Espíritos Orientadores da
Codificação Espírita nos esclarecem que [...]
adoração verdadeira é do
coração. Em todas as vossas ações, lembrai-vos sempre de que o Senhor tem sobre
vós o seu olhar. Esclarecem igualmente que a adoração exterior será útil,
[...] se não consistir num vão simulacro. É sempre útil dar um bom
exemplo. Mas, os que somente por afetação e amor-próprio o fazem, desmentindo com
o proceder a aparente piedade, mau exemplo dão e não imaginam o mal que causam.
Na verdade, continuam
elucidando os Espíritos Codificadores, Deus prefere
os que o adoram do fundo do
coração, com sinceridade, fazendo o bem e evitando o mal, aos que julgam
honrá-lo com cerimônias que os não tornam melhores para com os seus
semelhantes. Todos os homens são irmãos e filhos de Deus. Ele atrai a si todos
os que lhe obedecem às leis, qualquer que seja a forma sob que as exprimam. É
hipócrita aquele cuja piedade se cifra nos atos exteriores. Mau exemplo dá todo
aquele cuja adoração é afetada e contradiz o seu procedimento. Declaro-vos que
somente nos lábios e não na alma tem religião aquele que professa adorar o Cristo,
mas que é orgulhoso, invejoso e cioso, duro e implacável para com outrem, ou ambicioso
dos bens deste mundo. Deus, que tudo vê, dirá: o que conhece a verdade é cem
vezes mais culpado do mal que faz, do que o selvagem ignorante [...]. E como
tal
será tratado no dia da
justiça. Se um cego, ao passar, vos derriba, perdoá-lo-eis; se for um homem que
enxerga perfeitamente bem, queixar-vos-eis e com razão. Não pergunteis, pois,
se alguma forma de adoração há que mais convenha, porque equivaleria a
perguntardes se mais agrada a Deus ser adorado num idioma do que noutro.
Ainda uma vez vos digo: até
ele não chegam os cânticos, senão quando passam pela porta do coração.
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