Liberdade é a faculdade que
permite ao indivíduo decidir ou agir conforme sua própria vontade. Desta forma,
o (...) homem
é, por natureza, dono de si mesmo, isto é, tem o direito de fazer tudo
quanto achar conveniente ou
necessário à conservação e ao desenvolvimento de sua vida. Essa liberdade,
porém, não é absoluta, e nem poderia sê-lo, pela simples razão de que,
convivendo em sociedade, o homem tem o dever de respeitar esse mesmo direito em
cada um
de seus semelhantes.10
Para que o homem pudesse
gozar de liberdade absoluta, seria necessário que ele vivesse isolado, como o
eremita no deserto.
Desde que juntos estejam
dois homens, há entre eles direitos recíprocos que lhes cumpre respeitar.1 A
liberdade é, portanto, relativa, devendo ser adequada à liberdade do outro,
pois a liberdade e o direito de uma pessoa terminam onde começam a liberdade
e o direito do outro.
A compreensão da lei de
liberdade nos faz perceber que, para progredir, precisamos uns dos outros e que
todos temos direitos recíprocos, que precisam ser respeitados, uma vez que
qualquer prejuízo que provoquemos ao semelhante, em decorrência dos nossos
atos, não ficará impune perante a Lei de Deus. É por esta razão que o
ensinamento de Jesus de não fazer aos outros o que não gostaríamos
que os outros nos fizessem (Mateus, 7:12) — ensinamento conhecido
como regra de ouro — estabelece os limites da nossa liberdade e nos orienta
como viver em sociedade, conforme os direitos e os deveres que nos cabem.
A lei de liberdade é bem
compreendida quando aprendemos a fazer relação entre a liberdade de pensar e a
liberdade de consciência. Como sabemos, a liberdade de pensar é plena no ser
humano: No
pensamento goza o homem de ilimitada liberdade, pois que não há como pôr-lhe
peias. [...]4 Voando
nas asas do pensamento, a mente espiritual reflete as próprias idéias e as
idéias das mentes com as quais se afiniza, nos processos naturais de sintonia. Nos
seres primitivos, [a mente] aparece sob a ganga do
instinto, nas almas humanas surge entre as ilusões que salteiam a inteligência,
e revela-se nos Espíritos Aperfeiçoados por brilhante precioso a
retratar a Glória Divina.
Estudando-a de nossa posição espiritual, confinados que nos
achamos entre a animalidade
e a angelitude, somos impelidos a interpretá-la como sendo o campo de nossa
consciência desperta, na faixa evolutiva em que o conhecimento adquirido nos
permite operar.13 Compreende-se, pois, que o pensamento tudo
move, [...] criando e transformando, destruindo e refazendo para
acrisolar e sublimar. [...]14 A consciência, nesse
contexto, representa, como nos esclarecem os Espíritos da Codificação, um
pensamento íntimo, que pertence ao homem, como todos os outros pensamentos.6 Ela é
o [...] centro
da personalidade, centro permanente, indestrutível, que persiste e se mantém
através de todas as transformações do indivíduo. A consciência é não somente a
faculdade de perceber, mas também o sentimento que temos de viver, agir,
pensar, querer. É una e indivisível. [...]12
No entanto, à medida que os
Espíritos evoluem, a consciência do bem e do mal está mais bem definida neles,
de sorte que a liberdade de consciência, regulando as relações interpessoais,
reflete [...] um dos caracteres da verdadeira civilização e
progresso.7
A consciência, entendida
como faculdade de estabelecer julgamentos morais ou juízos de valor, é um
atributo pelo qual o homem pode conhecer e julgar sua realidade e a realidade
do outro. Os julgamentos feitos pela consciência e as interpretações de atos e
fatos do cotidiano apresentam limitações, visto que estão fundamentados em
parâmetros morais que cada um estabelece para si. É ela fruto de experiências e
crenças individuais, elaboradas no contexto cultural onde
a criatura humana está
inserida, e que se manifesta de acordo com a evolução espiritual do ser. Assim,
enquanto a liberdade de pensar é ilimitada, a liberdade de consciência sofre
restrição, já que depende do nível evolutivo do Espírito.
A consciência não
esclarecida pode alimentar idéias malsãs, gerar e provocar ações moral e
eticamente abusivas, resultando na manifestação de sofrimentos e desarmonias
para si mesma e para o próximo. Os embaraços à liberdade de consciência, a
propagação de doutrinas perniciosas e a escravidão humana são exemplos de
desvios provocados por Espíritos imperfeitos, dominados pelo orgulho e pelo
egoísmo. Devemos agir com cautela quando condenamos as
ações, as idéias ou as
crenças das pessoas, a fim de que não atentemos contra a liberdade de
consciência. No entanto, é oportuno considerar que reprimir [...]
os atos exteriores de uma
crença, quando acarretam qualquer prejuízo a terceiros, não é atentar contra a
liberdade de consciência, pois que essa repressão em nada tira à crença a
liberdade, que ela conserva integral.8 Por
outro lado, sempre que nos é possível, podemos e devemos trazer ao caminho da
verdade os que se transviaram, servindo-nos, a exemplo de Jesus, da
brandura e da persuasão e não da força.9
Como nos esclarecem os
Espíritos superiores, se [...] alguma coisa se pode impor, é o bem e a
fraternidade. Mas não cremos que o melhor meio de fazê-los admitidos seja obrar
com violência. A convicção não se impõe.9
Outro abuso da manifestação
da consciência é a escravidão, ou seja, a submissão da vontade, do cerceamento
da liberdade de ir e vir, de agir e de pensar do ser. A escravidão,
independentemente das formas em que se manifeste, é contrária à lei de Deus,
porque é um abuso de força, mesmo quando faz parte dos costumes de um povo. É
contrária à Natureza a lei humana que
consagra a escravidão, pois que assemelha o homem ao irracional e o degrada
física e moralmente.2 A escravidão humana é um
mal. E o
[...] mal é
sempre o mal e não há sofisma que faça se torne boa uma ação má. A
responsabilidade, porém, do mal é relativa aos meios de que o homem disponha
para compreendê-lo. Aquele que tira proveito da lei da escravidão é sempre
culpado de violação da lei da Natureza.3
A despeito de todo
sofrimento existente no Planeta, é certo que a Humanidade tem progredido, ocorrendo uma preocupação mundial de valorizar
a paz entre os povos e entre os indivíduos: De século para século, menos
dificuldade encontra o homem para pensar sem peias e, a cada geração que surge,
mais amplas se tornam as garantias individuais no que tange à inviolabilidade
do foro íntimo.
[...] Nas
dissensões religiosas, as chamas das fogueiras foram substituídas pelas luzes do
esclarecimento, e na catequese filosófica ou política, estejamos certos, daqui
para
o futuro, buscar-se-á
empregar, cada vez mais, a força da persuasão ao invés da imposição pela força.11
Referência
Bibliográfica
1. KARDEC, Allan. O livro dos espíritos.
Trad. de Guillon Ribeiro.
84. ed. Rio de Janeiro: FEB, 2003. Questão
826, p. 383.
2. ______. Questão 829 – comentário – p.
384.
3. ______. Questão 830, p. 384.
4. ______. Questão 833, p. 385.
5. ______. Questão 834, p. 386.
6. ______. Questão 835, p. 386.
7. ______. Questão 837, p. 386.
8. ______. Questão 840 – comentário – p.
387.
9. ______. Questão 841, p. 387.
10. CALIGARIS, Rodolfo. As leis morais. 9. ed. Rio de Janeiro:
FEB, 2001, p. 148.
11. ______. p. 149-150.
12. DENIS, Léon. O Problema do ser, do
destino e da dor. 27.
ed. Rio
de Janeiro: FEB, 2004. Terceira parte,
item 21, p. 323.
13. XAVIER, Francisco Cândido. Pensamento e vida. Pelo Espírito
Emmanuel. 12. ed. Rio de Janeiro: FEB,
2002. Cap. 1,
p.
11-12.
14. ______. p. 12.
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